Termina amanhã, quinta-feira, o prazo de 60 dias que os accionistas do banco "Moza" têm para injectar os cerca de 8,1 mil milhões de meticais para a recapitalização do banco intervencionado em finais Setembro de 2016 pelo Banco de Moçambique.
Até às zero horas de amanhã, 23 de Março, os accionistas perdem a prerrogativa de encontrar um parceiro, e o Banco de Moçambique poderá colocar o banco na praça, É pouco provável que haja um milagre de última hora por parte da "Moçambique Capitais", o maior accionista do "Moza", que lhe permita encontrar o dinheiro para mostrar a Rogério Zandamela, tal como haviam prometido fazer na decisão que tomaram a 23 de Janeiro em Assembleia-Geral. É quase certo que o único banco genuinamente moçambicano e sem casa-mãe no estrangeiro terá mesmo de ser vendido, e muito provavelmente a estrangeiros, para a sua recapitalização. Face à pressão do tempo, há também um forte "lobby" nos corredores do Banco de Moçambique daqueles que já marcaram posição para adquirir o "Moza". Perfilam--se factores que tornam o "Moza" bastante cobiçado: com cerca de 7% da quota de mercado, uma rede de cerca de 50 agências, infra-estruturas modernas e um sistema informático considerado como dos melhores no mercado nacional, 700 trabalhadores, dos quais 99% são moçambicanos, o *Moza* conseguiu, em menos de oito anos de actividade, colocar-se em quarto lugar num "ranking" de dezanove bancos comerciais.
É uma questão de injectar dinheiro e olear a máquina, que os carretos engrenam sozinhos. Segundo apurou o Canalmoz de fontes do Banco de Moçambique estão neste momento com papéis para adquirir o rtMozav: a empresa "Atlas Mara*, de Bob Diamond (que entrou em desinteligências com a "Moçambique Capitais", numa primeira abordagem do negócio); Edy Mondlane (filho de Eduardo Mondlane); o "Barclays" (que tem Luísa Diogo como presidente do Conselho de Administração); o "Societé Generale” (da França); um banco malaiviano; um banco marroquino.
O caso curioso de João Figueiredo
Um outro interessado na aquisição do "Moza" é o banco BIC, de Isabel dos Santos (filha do José Eduardo dos Santos) e Américo Amorim (o magnata português da indústria têxtil). E é justamente aqui onde está o problema. Américo Amorim é sócio de João Figueiredo no '"Banco Único", onde Figueiredo já foi presidente do Conselho de Administração, mantendo actualmente uma quota considerável das acções do banco. João Figueiredo foi nomeado pelo Banco de Moçambique como presidente do Conselho de Administração provisório do "Moza* na noite de 30 de Setembro.
Sendo accionista do "'Banco Único", Figueiredo é praticamente concorrente do "Moza”. O que agrava esta situação de aparente conflito de interesses é o facto de João Figueiredo, na sua qualidade de presidente do Conselho de Administração provisório do "Moza**, ser também presidente da Comissão de Avaliação de Propostas de recapitalização do "Moza", que foi criada pelo Governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela.
João Figueiredo estará, assim, à frente de todo o processo da recapitalização do "Moza”, incluindo o escrutínio dos próximos órgãos sociais do banco. À comissão presidida por Figueiredo também foram conferidos poderes de decidir quem serão os próximos accionistas maioritários do "Moza". É uma situação curiosa em que o árbitro poderá ser o jogador.
O Canalmoz tentou contactar João Figueiredo, mas todas as nossas tentativas foram infrutíferas. Para já, a situação está a criar um mal-estar generalizado entre o Banco de Moçambique e a "Moçambique Capitais", dona do "Mozav, que não vê com bons olhos, sob o ponto de vista ético, a posição de João Figueiredo. (Matias Guente. na Beira)
CANALMOZ – 22.03.2017