Canal de Opinião por Adelino Timóteo
Nestes dias tendem a reincidir-se a defraudação do erário público, para a qual estão em conexão dois amigalhaços do presidente, que, não obstante as evidências, em tudo isso mantém-se este mudo e surdo. Nestes dias assombra-nos ainda mais não só o silêncio cumplicente do presidente, mas como são mantidos dentro do seu Governo figuras desgastadas do ponto de vista de transparência e gestão da coisa pública.
Nestes dias, em que se desdobram actos para se meter a mão até ao fundo do saco azul, e saquear até a última migalha, ocorre-nos a convicção de que todas as acções do Governo e do presidente tendem à renovação do seu mandato, custe o que custar, seja dolosa ou negligente, não fosse a permissiva promiscuidade e a demasiada coincidência, em se fechar os olhos, ao caso de um ministro empresário envolvido na grande corrupção. Nestes dias, a opção do presidente pelo silêncio releva que as acções que temos denunciado contam com a sua anuência e beneplácito, porque, conhecedores da imagologia que somos, ou seja, a arte da imagem, sabemos que o dinheiro com que o Estado é defraudado agora será o mesmo que o financiará na campanha eleitoral, ao nível do partido, pois foi esse o “modus operandi” utilizado na sua eleição anterior. Nestes dias sabemos todos que se voltarão a comprar-se consciências no comité central, para se orientar os votos em favor do presidente.
Nestes dias desdobram-se campanhas de compra de consciências, entre os profissionais de imprensa, entre os conhecidos trapezistas, usando do mesmo dinheiro roubado ao povo, para polimento, na rede social dominante, de desgastadas e sujas imagens de um ministro com pretensões de ser chefe do Governo e mais o seu confrade insolvente, o último com exorbitantes dívidas à banca portuguesa e na praça pública.
A orientação dos votos tem também a sua componente no plano internacional, onde o presidente está numa luta titânica para a angariação de suporte. Não é por acaso que o presidente, preocupado com o amealhamento de benefícios económicos esqueceu-se que o país é membro do Movimento dos países Não-Alinhados (MNA), significando isso neutros nos diferendos que opõem as grandes potências. E vai daí que juntou-se ao Japão, na cruzada contra a Coreia do Norte, pelo lançamento do míssil balístico.
Vê-se como temos um presidente e Governo desconcertados, que se esqueceram o posicionamento do país em face desse tipo de contendas.
Na sua deriva, o presidente violou os princípios do MNA:
1) Respeito pelos direitos humanos fundamentais e aos objectivos e princípios
da Carta das Nações Unidas;
2)Respeito pela soberania e integridade territorial de todas as nações;
3) Reconhecimento da igualdade de todas as raças e a igualdade de todas as nações, grandes e pequenas;
4) A abstenção de intervir ou de interferir nos assuntos internos de outro país;
5) O respeito ao direito a defender-se de cada nação, individual ou colectivamente, em conformidade com a Carta da ONU;
6) A abstenção do uso de pactos de defesa colectiva a serviço de interesses particulares de quaisquer das grandes potências;
7) A abstenção de todo o país de exercer pressões sobre outros países;
8) Abster-se de realizar actos ou ameaças de agressão, ou de utilizar a força contra a integridade territorial ou a independência política de qualquer país;
9) A solução pacífica de todos os conflitos internacionais, em conformidade com a Carta da ONU; 10) A promoção dos interesses mútuos, da cooperação e o respeito pela justiça e pelas obrigações internacionais.
Perante essas circunstâncias nada nos obsta de apelar às reservas morais do partido a tratarem de candidatar outras figuras para concorrer na próxima eleição. Respeitamos a lei dos partidos políticos. Há dias, falámos aqui de Alberto Vaquina, antigo primeiro-ministro, cujo nome se ventila em surdina nalguns sectores do partido, por parecer impoluto na questão das dívidas escondidas.
Urge que o partido comece a preocupar-se com a purificação da sua imagem, desde de dentro, porque as caras de que vimos falando não abonam em prol do país, junto dos doadores e instituições de crédito. (Adelino Timóteo)
CANALMOZ – 20.03.2017