O economista moçambicano João Mosca traçou hoje um retrato negro da economia do país, salientando as dificuldades na criação de um ambiente de negócios encorajador, mas apontando também as muitas oportunidades que Moçambique oferece para os investidores.
"É preciso uma política económica estável, há desequilíbrios essenciais e é preciso tornar os investimentos menos vulneráveis", disse o economista durante a sua intervenção no ciclo de conferências da Fundação AIP sobre 'África lusófona, uma visão prospetiva', hoje sobre 'Moçambique, entre a crise financeira e uma nova economia'.
"O professor acabou por nos dar muitas razões para não investir em Moçambique", comentou um empresário que assistia ao debate, resumindo boa parte da intervenção do economista moçambicano, que salientou as muitas dificuldades para os investidores.
Na resposta, João Mosca explicou o pessimismo: "Torna-se difícil para mim fazer um discurso muito otimista porque as condições não permitem isso; eu sou sério, não posso fazer um discurso contrário, não posso fazer uma gestão otimista, mas fui razoavelmente ponderado e esperançoso; há coisas boas a acontecer e o futuro pode ser muito bom, porque Moçambique tem esse potencial, o Governo atual está muito recetivo a investimento e a sociedade moçambicana é muito plural" em termos políticos, religiosos, étnicos e sociais.
Desde os serviços públicos pouco eficientes, passando pelas dificuldades no acesso ao crédito, pela "corrupção a todos os níveis", até aos serviços aos cidadãos de baixa qualidade, e terminando na crítica ao "Estado frágil e ineficiente, com forte centralização das decisões nos órgãos centrais", João Mosca continuou elencando os principais riscos para os investidores estrangeiros.
"Há instabilidade macroeconómica, as políticas públicas são muitas vezes incoerentes e os serviços públicos pouco eficientes", sintetizou o economista.
"Há a possibilidade de conflitos políticos e sociais, o cidadão vive 40% subsidiado na sua vida, houve uma gestão fictícia do banco central, que susteve o metical para evitar a inflação e proteger a importação", elencou João Mosca, apontando também que a sociedade civil está a tornar-se cada vez mais forte.
João Mosca exemplificou com o caso do projeto Prosavana, um megaprograma agrícola financiado pelo Brasil e Japão e que é executado em províncias do norte e centro de Moçambique.
O objetivo deste projeto é converter a agricultura de subsistência em produção de mercado.
"O projecto Prosavana foi paralisado por causa da reivindicação e das redes sociais, coisa que não existe seguramente em Angola, que são crescentemente influentes e atuantes, reivindicativas", concluiu.
Lusa – 28.03.2017