No corre-corre para mostrar o serviço e lograr uma campanha eleitoral à altura da factura social política e social que se adivinha, confrontamo-nos com a informação inédita de que o Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural, atribuiu, em dois anos, quinhentos mil DUATs (direito de uso e aproveito de terra), contra cinquenta mil anteriores, ou seja, desde há cerca de quarenta anos.
Este dado, que procura mostrar os resultados da administração do novo Presidente, enferma de hiper-inflação.
O pressuposto dessa hiper-inflação, contrária à boa-fé, dificilmente produzirá harmonia consensual, considerando as circunstâncias de tempo, de modo e de lugar.
Antes de escrever este, com base em antenas, fiz as minhas recolhas.
Logo, a casualidade do número que nos foi apresentado funda-se num contrato duvidoso, em que o Governo decidiu mentir, para alterar de forma anormal e simulada o seu desempenho, lesando o direito do povo de acesso a informação idónea.
À luz do juízo de equidade, esta modificação assimétrica assumida pelo ministro da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural afecta gravemente os princípios da boa-fé, daí subsumindo, deixa a descoberto os riscos da sua transparência na execução do contrato que lhe outorga poderes para dirigir aquele Ministério, que pelos números gigantescos que apresenta, passou a Mistério.
O bom senso e o senso comum não preocupam o Mistério do nosso ministro, pois conta a estabilidade do Governo que representa, ávido de conseguir bons resultados, em glória própria, no combate à pobreza absoluta, nem que para tal implique o recurso a fraude.
O resultado demonstrado pelo Mistério do Correia, como é bastante óbvio, será uma fundada expectativa de mudanças económicas e sociais sem precedentes na sua rapidez e totalidade, influenciando assim diferentes segmentos de opinião, doadores e agências de cooperação.
Os números de Correia espantam-nos porque, nesta altura de racionamento orçamental, o seu Mistério tornou-se “verdadeiramente eficiente”, mais do que o conjunto do executivo todo-poderoso de chefes políticos e seu exército de administradores.
Deve ser autoritário esse misterioso ministro a conseguir colocar os seus colaboradores no campo, contrariando os relatórios estatizados, de falta de meios circulantes, da época das secas, dos excessos de cheias, da falta de pontes, da guerra que flagela parte do território nacional.
Grande é ainda o silêncio e conformismo em torno da verdade sem igual do Mistério.
O presidente e os propagandistas vieram o terreiro influenciar a opinião com muito mais eficácia do que poderiam tê-lo feito pelas mais eloquentes invectivas, pelas mais convincentes refutações lógicas. É o efeito contágio a que estamos sujeitos.
O mais importante para esse Executivo não é a lealdade dos dados, nem a mentira que representam, mas a sua “felicidade” em iludir uma pesquisa, uma estatística com o patrocínio dos impostos públicos, pagos pelos cidadãos defraudados.
O mais importante para esse Executivo é a melhoria das condições de vida dos cidadãos, nem que tal seja apenas nos números bonitos constantes nos papéis do relatório. O mais importante é destilar a mensagem com que se pretende arguir a razão da confiança depositada em Outubro de 2013.
Com esse tipo de Mistério, que nos leva a ascender à ilusão, estamos mesmo perdidos!
Ámen! (Adelino Timóteo)
CANALMOZ – 27.03.2017
NOTA: Será que Moçambique tem agrimensores suficientes para atestarem a localização exacta de cada DUAT? Tantos milhares de DUAT’s em tão pouco tempo? Foram colocados marcos de delimitação? Não dá para acreditar na sua fidelidade.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE