EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (47)
Bom dia, Presidente. Sei que está de visita à província da Zambézia. Não se preocupe, a correspondência chegar-lhe-á às mãos aí mesmo. Mas antes gostava de saber como é que o Presidente dormiu. Foi em Quelimane? Faço-lhe esta pergunta porque, salvo erro, da última vez que o Presidente esteve nessas paragens disse o que, a meu ver, não devia ter dito: que a cidade de Quelimane está cheia de lixo; pronunciamento esse que foi respondido atempadamente- e de que forma?!- pelo edil local, Manuel de Araújo.
Todavia, não é do lixo que o Presidente viu em Quelimane que hoje me quero debruçar. É do País, no seu todo, aliás, como sempre!
Quer- me ater a elementos observáveis sem recurso às lentes. O Presidente, quando tomou posse, discursou bonito. Naquele dia até gostei. Só não lhe pude abraçar devido à sua segurança apertada. Porém, de noite para o dia, não reconheci mais o dono daquele discurso apaziguador, promissor, embalsamador. Bastou o Presidente formar o seu Governo para que o povo se apercebesse que foi enganado, como sempre. Praticamente nada mudou. Tomou a linha do seu antecessor.
Até hoje vinga o caciquismo e a bajulação.
O Presidente chamou ao Governo alguns amigos problemáticos, como é o caso do ministro dos Transportes e Comunicações, o senhor Carlos Mesquita. Ele, na sua tomada de posse, jurou servir ao povo, mas está a servir-se. Faz do Estado moçambicano a sua vaca leiteira. Gostava eu de saber porquê o Presidente chamou este senhor ao Governo.
A minha pergunta é óbvia: este senhor é um empresário. Portanto, devia o ter deixado continuar a fazer o que ele faz melhor: negócios.
Qual é a sua dificuldade, Presidente, em demitir o ministro Mesquita? Se o seu Governo é transparente e pretende, como tem propalado, servir ao povo, então comece por demitir Carlos Mesquita. É um mau exemplo para um Governo que se pretende de reputação ilibada. Ao mantê-lo no seu Governo, empurra-nos para a conclusão óbvia: o Presidente é cúmplice. Quem desgraça o Estado moçambicano não é o povo. São indivíduos bem posicionados no Governo e toda a cleptocracia frelimista.
Quem torna o Estado ineficaz e ineficiente é a classe que está no poder.
A falência das políticas públicas é culpa do Governo do dia. Não foi o povo que pediu para andar no “My Love”. Não foi o povo que preferiu as comidas trazidas pelas viaturas de senhoras à procura do pão. São as políticas estatais que não resultam. Isto é culpa de um grupelho que transformou o Estado moçambicano numa plataforma de distribuição de recursos e de negócios; de promiscuidade e de corrupção.
O Presidente jamais assumiu acções dignas de um empregado do povo. É óbvio que as relações do poder frelimista são biunívocas. Não é preciso lentes para descortinar como é que se tece o poder frelimista. Há troca de favores, os ricaços da Frelimo não negociam com bens, mas com favores.
Muitos ficam ricos com suborno e por influência. Muitos são mantidos no poder não por competência, mas devido a essa promiscuidade, a favores, subornos. Qual é a obra do ministro Mesquita desde que chegou ao Governo? O povo não continua a andar no “My Love”, enquanto o seu cunhado vivia como um nababo às custas da galinha de ovos de ouro, chamada LAM? O que o Presidente fez? Nada! Porquê não fez nada?
Elementar: as teias que tecem o poder não lhe permitem! Estamos a ser enganados, o senhor não é e nunca foi empregado do povo. Se tem algum patrão, não é o povo moçambicano.
Este povo nem tem como lhe pagar, e o Presidente e eu sabemos que o senhor não pode trabalhar gratuitamente!
Quanto dinheiro o Estado moçambicano perde só por alimentar promiscuidades, favores, Subornos?
Quarenta anos depois da independência não soa absurdo quando as notícias das rádios e televisões públicas veiculam que o livro escolar de distribuição gratuita ainda não chegou a todos destinos? A quem interessa que o livro não chegue?
Quem desorganiza o sector da distribuição do livro escolar, é o Laurindos?
Todos os anos, o problema do livro escolar é o mesmo. Nunca se aprende nada. Os atrasos são sistemáticos e propositados. E já deixei de acreditar que ele é gratuito. Existe à venda no mercado informal. Quem fornece esse livro aos informais? É o Laurindos?
O Presidente nunca ouviu que o livro que se pretende de distribuição gratuita anda por ai nas bancas a ser vendido? Nunca vi nenhuma acção governamental no sentido de resolver este problema. Logo, o Governo é cúmplice.
Ninguém me pode desmentir que o Governo é que fornece o livro de distribuição gratuita ao mercado informal para que seja vendido.
O povo não é capaz de fazer isso. o povo não tem esse poder. O povo sabe valorizar o pouco que tem. O povo não é corrupto, não se mete em esquemas.
Quem é o responsável pela distribuição do material escolar? O Presidente já o chamou à razão? Por que não? Agrada-lhe este atraso? A senhora Conceita Sortane foi fazer o quê no Ministério da Educação? Se ela é mais valia, que o prove!
E há muitos ministros seus que precisam de provar porquê estão no Governo. Falo de ministros tipo Oswaldo Pitersburgo, Silva Dunduro, Ana Flávia, José Pacheco, Vitória Diogo, Carlos Mesquita, Carlos Bonetti Martinho, entre tantos. Estes são só alguns exemplos de indivíduos até com regalias sem fazer nada.
Estes senhores não trabalham!
Ah! Meu povo: tu não mereces ser governado por gente desavergonhada que articula em grupos de eventual cariz mafioso e com práticas gangsteristas só para sugar o Estado. Tu não mereces ser governado por lobistas sem pudor que fazem do Estado moçambicano o seu filé mignon. Tu mereces mais meu povo. Esse mais está no teu voto!
DN – 24.03.2017