Por Capitão Manuel Bernardo Gondola
Atenção! Não confunda idoso com velho. Idosa, é uma pessoa que tem bastante idade. Velha, é aquela pessoa que pensa que já sabe tudo, que pensa que já conhece e que não precisa mais aprender.
Idosa, é uma pessoa com 70 anos de idade, 80 anos de idade. Velho, você pode ser e eu também, com 20 ou 30 anos de idade, 60 ou 70 anos.
E…, então, o grande perigo das nossas Universidades hoje no país, não é de ficarem idosas mas é sim de ficarem velhas. Aliás, as principais Universidade do país (UEM, UP, ISPU,UC, ACIPOL,ISEDEF, Academia Militar), que são as primeiras formas que têm mais de 50, 30 e 20 anos de história, correram em vários momentos e ainda correm um risco, não de ficarem idosas mas, de ficarem velhas.
Mas, qual é a diferença repito entre o idoso e o velho? O velho é aquele, que pensa que já sabe tudo, é aquele que pensa que, já está pronto. Repare; em português há uma palavra emprestada do latim, que se usa em francês, se usa em espanhol e se usa em inglês. Em português, nós usamos com frequência a palavra perfeito.
Perfeito, como sabem os que estudaram o latim, significa feito por completo, feito por inteiro, ou seja, concluído. Por isso, cuidado Universidades moçambicanas porque, uma Universidade envelhece quando os homens e as mulheres, que neles representam e actuam consideram que, o que fazem é perfeito. Quer dizer, já está feito por completo, feito por inteiro e basta reproduzir.
Como vê, nós vivemos num mundo hoje em que, há uma veloz mudança nos modos de fazer, de pensar e de actuar. Qual é o grande risco disso? É nós ficarmos satisfeitos ou satisfeitas.
E, a satisfação muitas vezes paralisa, adormece e entorpece. Guimarães Rosa, escritor brasileiro já falecido dizia e é verdade: “O animal satisfeito dorme”. A satisfação nos conduz muitas vezes ao um estado perigoso de tranquilidade.
Tanto que, a primeira grande virtude de um professor universitário é que, ele tenha insatisfação positiva. Ou seja, que ele ou ela, não se contentem em saber apenas o que já sabe, em ensinar apenas no modo como já ensina, em formar na maneira como forma.
Albert Hanstan, um dos grandes alemãs da história, que ganhou inclusive a cidadania norte-americana, é autor de uma frase inolvidável, que diz assim: “tolice é fazer as coisas sempre da mesma forma e esperar resultados diferentes”. Ou seja, traduzindo; tolice é fazer as coisas sempre da mesma forma e aguardar resultados diferentes.
Quer isto dizer, que nós Universidades moçambicanas, precisamos separar como professores e professoras do nosso dia-a-dia, a possibilidade de sermos velhos e tolos. Nós precisamos ser sábios idosos. Por isso, para que sejamos eu e você um idoso sábio, e não um velho tolo é preciso que tenhamos uma virtude junto com a anterior. A anterior, como sendo uma insatisfação positiva.
É evidente, que a segunda virtude que não é teologal ela é pedagógica. A segunda grande virtude pedagógica é a humildade. Repare, que a humildade é diferente da subserviência. Uma pessoa subserviente é aquela que se curva com qualquer facilidade.
Uma pessoa humilde, é aquela que sabe que, não sabe tudo. É aquela pessoa que sabe que, não é a única que sabe. É aquela pessoa que sabe que, a outra pessoa sabe o que ela não sabe. É aquela pessoa que sabe que, ele e a outra pessoa saberão muita coisa junta, é aquela pessoa que sabe que, ele e a outra pessoa, nunca saberão tudo que pode ser sabido.
Do mesmo modo, gente grande de verdade sabe, que é pequena e por isso cresce.
Gente muito pequena pensa que, já é grande e único modo dela crescer é diminuir outra pessoa. Digo de novo. Gente grande de verdade sabe, que é pequena e por isso cresce.
Gente muito pequena pensa, que já é grande e único modo dela crescer é baixar outras pessoas. A Universidade moçambicana, e nós professores e professoras dentro dela temos que saber, que para sermos grandes nós temos que nos
reconhecer pequenos. Isto é, termos a cabeça aberta em relação ao mundo que muda e levarmos essa mudança em conta e, não nos tornarmos refém da mudança isto é, termos humildade sem subserviência.
Você vê, humildade não é Subserviência. Humildade é voltar àquilo, que um dia nos ensinaram. “Que a educação não é para domesticar, mas é para libertar. A educação não é para alienar mais é para oferecer autonomia as pessoas”.
Claro! Nós temos uma história de Universidade pública de mais de 30 anos e precisamos introduzir uma distinção daquilo, que vem do passado que algumas coisas têm que ser trazidas até hoje. Aquilo que tem de ser protegido, guardado e levado adiante, que nós chamamos de tradição. Tradição, é o que vêm do passado e precisa ser protegido, guardado e, levado adiante.
De modo que, algumas coisas do passado nós temos que deixar, ou seja, descarta-las. Há coisas que vêm do passado, que tem que ficar lá no passado. Porque elas já estão ultrapassadas, elas já não têm mas lugar, elas já não fazem mais sentido. A isso, nós chamamos de arcaico. Veja bem!? Há uma diferença entre o tradicional e o arcaico.
O tradicional, é o que vêm do passado e nós temos que proteger. O arcaico, é o que veio do passado e nós temos que descartar. Ou mesmo, livrarmo-nos.
Há muitas coisas nas nossas Universidades, que são tradicionais e precisam ser levadas e protegidas: Os conteúdos, a formação humanista, o relacionamento saudável na convivência, a recusa ao egoísmo, a noção de acolhimento e o desejo de formar pessoas; isso é tradicional.
Mas, algumas coisas vêm do passado, e ainda perduram nas nossas Universidades, e essas coisas são arcaicas. Que é, o autoritarismo de algumas Universidades, o envelhecimento de algumas práticas pedagógicas, a arrogância eventual de professores e professoras, que no mundo de mudanças insistem na tolice de continuar, a utilizar as vezes conteúdos, que já não fazem sentido no século XXI.
Por isso, em cada Universidade você e eu, professor e professora, temos de saber fazer uma separação do que veio do passado, o que é que é tradição e que nós vamos levar adiante e o que é que é arcaico, que nós vamos deixar para o passado.
Destarte, o professor e a professora na nossa Universidade no século XXI, precisa ser capaz de negar aquilo, que não tem mais lugar, que é arcaico, ou, certo autoritarismo, certa recusa aos conteúdos contemporâneos, certa arrogância em relação ao modo de relacionamento e de pensar. Isso, você vê, tem que ser negado. Algumas coisas têm que ser protegidas. Ou seja, guardadas e trazidas do passado com carinho e com cuidado.
Por isso, há coisas que nós temos que negar o arcaico, outras nós temos que proteger, isto é, ir adiante. Em outras palavras, não nos contentemos como acontece com o modo como já fizemos as coisas nas nossas Universidades.
Aliás, uma das frases que eu mais estimo é de um grande norte-americano, que é ligado ao tempo de consumo e que todas as vezes ele disputa quando há eleições nos Estados Unidos, para as presidenciais, e ele perde todas as vezes mas, ele não desiste inclusive porque esse homem chamado Haff Nadal, ele aprendeu uma coisa. “Não existe fracasso no erro, o fracasso está na desistência”. Ou seja, você não fracassa quando erra. Fracassa quando após ter errado desiste.
E, Haff Nadal, diz algo muito característico, que “o verdadeiro líder, não forma seguidores, forma outros líderes”. Repito: “o verdadeiro líder, não forma seguidora, forma outros líderes”. Porque!? Quando você como docente, apenas forma seguidor nós, ficamos onde já estávamos. Mas, quando você como docente, forma alguém, que nos ultrapassa, nós conseguimos elevar àquilo que nós precisamos.
Então!... Qual é de facto a Universidade no país, que tem um professor e uma professora que respeite a tradição e descarte o arcaico?! Aquele que além de uma insatisfação positiva tem humildade mas especialmente tem a coragem.
Coragem para nós na filosofia, não é ausência de medo, coragem é a capacidade de enfrentar o medo. Coragem é a capacidade de iniciativa. Coragem é a capacidade de ir buscar envés de aguardar.
Lembrem-se, que o velho aguarda e, o idoso procura.
n/b:
Na Universidade, é proibido resmungar. Mas, não é proibido discutir, não é proibido debater, não proibido discordar. É proibido resmungar. Resmunga aquele, que anda pelos corredores falando sozinho.
Manuel Bernardo Gondola