EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (48)
Bom dia, Presidente. Não repara muito para os meus gatafunhos. Escrevi esta carta meio sonolento: fui à cama tarde. Estava a ler qualquer coisa do Eça de Queirós. Todavia, diz a velha máxima que quem promete deve; por isso, não lhe podia deixar sem a habitual correspondência das sextas-feiras.
Por falar do Eça de Queirós, vem-me à memória um magistral comentário seu: “Políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos pelo mesmo motivo”.
Acho que não se deve ter enganado. Há mais de 40 anos que somos governados pelo mesmo partido: a Frelimo. Seria correcto aos seus olhos, Presidente, se lhe dissesse que o povo morre de amores pelos camaradas?
Os problemas deste País, Presidente, são tantos e quase todos têm a mesma origem: políticas públicas falidas. E o Governo da Frelimo, enquanto isso, assobia para o ar, deixando o pobre povo sempre a carpir mágoas. O que distingui, por exemplo, este Governo do de Armando Guebuza, é o discurso. Porém, o caciquismo está lá, assim como a comercialização de favores e aglomeração de adeptos da politicalha. E pensar diferente neste País é quase ressuscitar os autos-de-fé; é ser tido como não patriota.
Podem ser, sim, alguns... mas sê-lo-ão todos? Acho que não.
Os discursos frelimistas dividem mais do que unem. Quem então irá unir os moçambicanos?
Não sei. Só sei que estamos lixados!
Há um assunto que julgo ser, dentre vários, de extrema importância: a gangrena da LAM.
Para mim, não adianta o Governo tentar colocar paninhos quentes, a LAM está de rastos. Está falida e não vão dizer que a culpa é do povo!
Até começo a duvidar da aparente prosperidade que se viveu nos tempos de Armando Guebuza. Acho que assentava em nada. Esta crise generalizada há muito que está a ser encoberta pela Frelimo. Os furos são tantos que até já não há como tapar o Sol.
E já agora: para lhe ser sincero, Presidente, não sei o que a viceministra dos Transportes e Comunicações foi fazer à LAM. A sua visita não mudou nada. Muito pelo contrário. Trouxe-nos mais dúvidas sobre idoneidade e competência das pessoas que o senhor chamou ao seu Governo. Aliás, isto deve ser um “copy and past”. Saberá o Presidente dizer um dia o que produziram as suas recentes visitas aos ministérios?
Manuela Rebelo devia ter ficado no seu gabinete, no espaldar da sua cadeira macia, ar condicionado, café, etc…. tudo pago pela generosa vaca leiteira: o Estado moçambicano. Tudo o que ela disse no final da visita, não é nada que não se saiba.
Os problemas da LAM, Presidente, são os de todo o País. Moçambique não é mais que uma vaca leiteira envelhecida e cansada de ser ordenhada por cínicos que não compreendem o seu estado.
Ri-me sozinho quando ouvi o Presidente a analisar a sua recente visita ao Japão. Sobretudo quando falava do sector dos transportes. Não era riso de contentamento. Era de desgraça mesmo. Era de mágoa. Pouco ou quase nada vai acrescentar se lhe disser que o meu transporte é o “My Love”. E às vezes escasseia! Talvez seja tempo para revisitar o que Charles de Gaulle disse um dia: “Como nenhum político acredita no que diz, fica sempre surpreso ao ver que os outros acreditam nele”.
DN – 31.03.2017