O Presidente da África do Sul, Jacob Zuma, demitiu, na noite de quinta-feira, o Ministro das Finanças, Pravin Gordhan, e oito outros membros do seu Executivo, uma medida que analistas consideram como podendo por em causa a sua liderança e investimentos no país.
Gordhan foi substituido pelo Ministro do Interior, Malusi Gigaba, figura que não possui sequer alguma experiência financeira ou de negócio, enquanto o parlamentar Sfiso Buthelezi será vice-Ministro das Finanças, em substituição de Mcebisi Jonas.
A remodelação governamental ameaça criar facções nas estruturas do Congresso Nacional Africano (ANC), partido no poder, e possivelmente desencadear uma revolta contra o Presidente. O Rande, a moeda sul-africana, esta em queda no mercado, receando-se que a situação venha piorar ainda mais nos próximos dias.
Os que vão dirigir o Tesouro não poderão garantir que a instituição protectora da estabilidade fiscal da África do Sul esteja em boas mãos, disse Anne Fruhauf, vice-presidente da Teneo Intelligence, uma entidade de consultoria de riscos.
A medida convida para uma reacção violenta da facção anti-Zuma, frisou.
A decisão de Zuma de substituir Gordhan, uma figura bem vista a níveil da comunidade dos investidores, por causa dos seus esforços de controlar as despesas, veio em face da oposição dos três dos seis membros do ANC e do Partido Comunista da África do Sul (SACP), um dos parceiros da aliança tripartida governamental.
Alguns ministros são tidos como estando preparados para se levantar contra o Presidente, que sobreviveu a vários escândalos de corrupção e liderou o pior desempenho do partido desde a abolição do Apartheid, em 1994, nas eleições municipais de Agosto último.
Esta situação poderá exacerbar o clima de divisões no ANC, disse Daniel Silke, director da empresa de consultoria de Futuros Políticos. Estamos realmente numa corrida em termos da coesão do ANC, acrescentou.
A demissão de Gordhan marca o fim de uma relação conflituosa, que começou quando Zuma lhe nomeou, em Dezembro de 2015, Ministro das Finanças, quatro dias depois do Presidente substituir Nhlanhla Nene por um deputado menos conhecido no país.
Embora se admita que a revisão governamental venha fortalecer a firmeza de Zuma para com o seu Executivo, também espera galvanizar a reacção dos seus críticos dentro do partido, enquanto ele procura garantir a escolha do seu successor nas eleições do ANC, no próximo mês de Dezembro.
Contudo, o Rande caiu, enfraquecendo drasticamente nas suas transacções com o Dólar americano, nas primeiras horas de hoje.
Num espaço de 15 meses, Zuma afastou dois Ministros das Finanças bem vistos no país, sustentou Nicholas Spiro, um parceiro da empresa britânica Lauressa Advisory Ltd, de consultoria.
Ao contrário de quando Nene foi demitido, a oposição a Zuma no seio do governo é considerada como sendo mais forte agora, prevendo-se, desta feita, uma crise política. O Rande vai ser prejudicado ainda mais e o cheiro de uma avaliação de lixo está já no ar, sublinhou.
O estadista sul-africano já efectuou 20 mudanças de membros do seu Executivo, encerrando, entretanto, uma semana dramática quando ordenou a Gordhan, na passada segunda-feira, a cancelar uma série de encontros com investidores internacionais, durante uma visita ao Reino Unido e Estados Unidos, bem como lhe ordenou a regressar ao país.
O Partido Comunista Sul-Africano criticou a decisão de Zuma opondo-se a sua demissão.
Gigaba, de 45 anos, foi indicado Ministro do Interior, em Maio de 2014. Antigo presidente da ala juvenil do partido no poder na África do Sul, ele é um professor de carreira.
A suceder Gordhan, o novo timoneiro das Finanças sul-africano ocupou também cargos de Ministro das Empresas Públicas, vice-Ministro do Interior e deputado da bancada parlamentar do ANC.
Vários ministros foram dados novos cargos, incluindo Fikile Mbalula, que vai dirigir a Polícia, Nathi Nhleko, foi indicado para as Obras Públicas, e Thulas Nxesi, para Desportos e Receração. Ayanda Dlodlo passa para o sector das Comunicações, em substituição de Faith Muthumbi, que foi apontada para Serviços Públicos e Administração. Hlengiwe Mkhize sucede Gigaba como Ministro do Interior.
Na mexida, Zuma não tocou Nkozasana-Dlamini Zuma, antiga presidente da União Africana (UA), que é vista como uma das principais concorrentes, com o vice-Presidente, Cyril Ramaphosa, para a liderança do ANC, em Dezembro deste ano.
Zuma sobreviveu a vários escândalos e tornou-se Presidente do país em 2009. O Tribunal Constitucional sul-africano decidiu, o ano passado, que o Presidente violou a lei ao negar devolver o dinheiro usado nas obras de reabilitação da sua residência privada em Nkandla, no KwaZulu-Natal, sua terra natal.
A remodelação governamental pode piorar a imagem do pais no mercado internacional. O Serviço de Investimentos Moodey classifica a dívida sul-africana a dois níveis acima do lixo e com uma perspectiva negativa.
Entretanto, a Aliança Democrática (DA) e Combatentes para a Liberdade Económica (EFF), partidos da oposição no país, apresentaram uma moção de censura contra o Presidente Zuma.
TIMES/JD/sn
AIM – 31.03.2017