Dois acontecimentos esta semana são auto-explanatórios sobre como Moçambique terá muitas dificuldades para obter progressos no índice mundial sobre a percepção da facilidade de fazer negócios no país.
São acontecimentos aparentemente marginais, mas que são devidamente anotados por parte de quem possa eventualmente ter algum interesse em colocar o seu dinheiro por estas margens do Índico.
O primeiro incidente toca a própria agremiação que anualmente se tem batido junto do governo para que este melhore o ambiente que permita a plena realização de negócios em Moçambique. É que o processo preparativo para as eleições para os órgãos directivos desta mesma organização deixa tanto a desejar, que não se pode conferir credibilidade à própria organização.
Se os empresários locais são vistos eles próprios como sendo um bando de mafiosos, que garantias tem qualquer investidor estrangeiro de que terá com eles uma relação justa nas suas transações?
Colocado de outra maneira, se os empresários locais se podem aldrabar entre eles, qual é a garantia que tem o estrangeiro, de que em caso de alguma disputa, o empresário local não irá comprar o sistema de justiça local (ele próprio já visto com muita suspeita) para tirar vantagens e lesar a contraparte estrangeira?
O segundo caso é um episódio que tem todas as facetas para o manuscrito de um blockbuster fresquinho das entranhas de Hollywood. Aconteceu na segunda-feira desta semana, quando dois perigosos cadastrados, sob guarda da polícia, foram libertados pelos seus próprios comparsas, ante a incapacidade dos seus acompanhantes de agir para impedir que os criminosos desaparecessem.
Criminosos há em todo o mundo. Mas poucos existem que desafiam o Estado com tamanho amadorismo e desprezo como o fazem em Moçambique. E quando é assim, o sentimento de fragilidade absoluta entre os cidadãos torna-se arrepiante.
Não deve haver dúvidas para ninguém, de que o incidente de segunda-feira foi orquestrado pelos próprios agentes da polícia que acompanhavam os dois criminosos. Ou para lhes dar o benefício da dúvida, caso o plano não tenha sido urdido por eles, então podiam estar a cumprir ordens dos seus superiores hierárquicos, longe de se aperceberem de que estavam envolvidos numa missão criminosa.
De qualquer das formas, a conclusão a que se chega é que não é a este tipo de polícia que qualquer país deve confiar a sua segurança.
Os dois episódios aqui vertidos interligam-se no sentido de que um país não pode ter um bom ambiente na condução de negócios, se por um lado os seus próprios empresários actuam com métodos de um autêntico gangsterismo, e por outro, se o seu sistema de segurança interna estiver mergulhado na corrupção a um nível tão profundo que o Estado já não é mais capaz de isolar os criminosos do resto da sociedade. Como alguém já fez notar, é altamente improvável que uma viatura de escolta fique retida no meio do trânsito, deixando o objecto da sua cobertura avançar sozinho.
A sujeira e os golpes baixos que estamos a testemunhar na campanha para as eleições na CTA demonstram o quão inapta é esta organização como representativa de interesses genuinamente empresariais. É o gangsterismo ao mais alto nível, espelhando provavelmente o carácter dos seus próprios membros. Nenhum empresário sério poderá se rever numa organização de tão baixa probidade.
A combinação da imagem de um sector empresarial despido de valores éticos e de um sistema de segurança pública profundamente comprometido com o crime são, para além de tantos outros, factores que concorrem para que este país continue a registar índices de confiança extremamente baixos nos esforços para se tornar num destino privilegiado de investimentos. Este é um país nas mãos da máfia.
SAVANA – 28.04.2017