Por Edwin Hounnou
Para quem ainda tinha algum pingo de dúvida sobre a seriedade do governo de Filipe Nyusi, fica dissipada depois do anúncio da intenção da construção de um aeródromo/aeroporto na cidade de Xai-Xai, capital da província de Gaza. Só um governo de marcianos pode não entender quais são as prioridades dos gazenses. Numa enumeração racional do que as populações de Gaza pretenderiam ver construído na sua província, numa lista de 15 itens, acredito que a construção de um aeródromo/aeroporto possa vir a constar e isso poderá significar uma dissonância de visão entre o executivo de Nyusi e o povo, que o Presidente chama, falsa e pretensiosamente, de seu patrão.
O governo não está a fazer o que o povo quer, mas aquilo que vai na sua cabeça. O nosso país anda abarrotado de prioridades inventadas pelo governo, que deixaram Moçambique comprometido, enrolado em dívidas inconstitucionais avaliadas em mis 2,2 mil milhões de dólares, contraídas por indivíduos que queriam ficar ricos sem trabalhar, adquirindo barquinhos que nem para pescar thepwe (camarão-fino) servem.
Hoje, o povo está a pagar pelo prato que não comeu por ambição e ganância desmedidas de alguns governantes. O mais grave é o facto de que a esses corruptos nem se lhes podia dizer que estavam errados porque toda a operação mafiosa foi feita à margem das instituições de direito do Estado moçambicano. O país continua com as fronteiras marítimas desguarnecidas e sem atum. Os argumentos mais bem fundamentados de experientes na matéria não foram capazes de demover os que conceberam os tais projectos como prioridades do país com o intuito de ganharem chorudas comissões, para além de roubos e extrapolação dos custos.
Com a Odebrecht, do Brasil, construíram, por motivos que só eles podem explicar, o aeroporto de Nacela tendo custado 216 milhões de dólares. Não foi preciso muito tempo para se provar que aquele aeroporto foi um truque para roubarem ao povo que é obrigado a pagar pela construção de um autêntico cavalo, obrigando-o a pagar por nulidades. A isso se chama burla cujos autores, em Estado de Direito, deviam ter sido presos e ser punidos, mas, nada lhes acontece por termos um Estado capturado por criminosos.
A construção da Ponte sobre a Baía da Catembe e estradas a ela interligadas custam 850 milhões de dólares que é uma outra artimanha que o governo de Armando Guebuza encontrou para fazer dinheiro, extrapolando ganhar o custo. Informações relevantes sugerem que a renovação do Aeroporto de Mavalane custou 60 milhões de dólares, mas o país está a apagar 160 porque um chefe mandou aumentar.
Se a intenção de Nyusi não for de motivos eleitoralistas, deveria voltar a pensar se o aeródromo/aeroporto de Xai-Xai constitui alguma prioridade. Os gazenses precisam de boas estradas para evacuarem os seus produtos para centros de consumo, boas escolas primárias, secundários, institutos técnicos médios e superiores, água potável, boas comunicações e não um aeroporto.