As Cidades de Maputo e Matola viveram na última segunda-feira um dia atípico devido à paralisação de furgões de transporte coletivo ("chapas") e devido à presença de um maior contingente policial nas ruas.
As principais paragens estão lotadas: a população espera por transportes que não chegam, enquanto a polícia reforçou o número de elementos na sequência de mensagens que circularam entre transportadores, convocando manifestações contra a subida do preço do combustível.
"Eu estou aqui na paragem há três horas e não há 'chapas' para ir à Escola", lamentou em declarações à Lusa Bento Zunguza, estudante da 10.ª classe na Escola Francisco Manyanga.
Este aluno levanta-se habitualmente às 04:00 para não se atrasar, mas hoje "a estratégia não resultou".
Bento Zunguza explica à Lusa que muitas pessoas do seu bairro (Plana Caniço) não conseguiram chegar aos seus postos de trabalho a horas e a presença policial nas principais paragens da capital, principalmente nas primeiras horas do dia, criou uma certa tensão.
"Estou aqui desde manhã e vi, logo que cheguei, muita polícia", explicou à Lusa Marlene Matável, uma comerciante informal no mercado Xiquelene.
Marlene teve de caminhar mais de seis quilómetros desde o bairro de Magoanene devido à falta de transportes.
"Estamos entregues à nossa sorte. É muito complicado quando até o sistema de transportes é um problema", lamenta a comerciante.
Segundo refere, além da paralisação de hoje dos "chapas", também há constantes greves dos trabalhadores da Empresa Municipal de Transporte Público de Maputo (EMTPM), que exigem melhores condições salariais, e é difícil pensar numa solução rápida.
Os veículos de caixa aberta que também costumam transportar pessoas podiam ter sido uma alternativa, mas estiveram igualmente parados.
São conhecidos por "my love" para descrever passageiros agarrados uns aos outros na caixa de carga para evitarem quedas, num eminente risco.
Poucos "my love" estiveram na rua, tendo em conta que das mensagens postas a circular, convocando manifestações, constavam ameaças de vandalização a qualquer viatura que se fizesse à rua para transportar passageiros.
Carlos Jorge foi um dos poucos transportadores que tiveram coragem de conduzir, mas revelou que só decidiu fazê-lo depois de se aperceber da presença policial nos principais pontos da cidade.
"Eles [transportadores de 'chapas'] dizem que nós temos privilégios porque a polícia não nos interpela e dizem que estamos a inviabilizar os seus negócios. Mas, na verdade, nós estamos a tentar ajudar as pessoas", explicou Carlos Jorge.
Este condutor admite que viajar num "my love" é perigoso, mas questiona "o que fazer se o Governo não consegue resolver definitivamente o problema?".
O governo moçambicano aumentou no dia 22 de março o preço dos combustíveis, mantendo os subsídios à agricultura e aos transportes públicos, mas a maioria dos operadores de "chapas" não está registada, pelo que não beneficia da medida.
Com os aumentos, a gasolina passou de 50,02 meticais (0,69 euros) para 56,06 meticais o litro (0,77 euros), enquanto o gasóleo subiu de 45,83 meticais (0,63 euros) para 51,89 meticais o litro (0,71 euros).
Lusa – 04.04.2017