Bate-fundo por salvador raimundo
FIGURA insuspeita, é de acreditar no que Joaquim Chissano acaba de dizer a partir de Marraquexe, Marrocos, sobre o modo como está a ser gerido o caso das dívidas ocultas envolvendo Armando Guebuza.
Se, por um lado, Chissano não suscita nenhuma espécie de suspeitas para os seus admiradores, incluíndo entre os não frelimistas, por outro há um número considerável dos que desconfiam do modo como as coisas estão a ser feitas.
O facto de Chissano e Guebuza serem membros seniores do mesmo clube libertador, logo, comprometidos em um defender o outro, conta muito para as conclusões vindas de Chissano.
Na semana passada, ficou-se a saber que a PGR está animada em ter acesso às contas bancárias de Armando Guebuza, cá dentro e lá fora.
Guebuza terá garantido responder às perguntas da Bloomberg sobre o caso, só lá – tamanha coincidência – para o término e anúncio das investigações sob a égide da Kroll.
Há meses, Armando Guebuza respondeu as questões dos deputados de uma comissão parlamentar que está a investigar, em paralelo, o assunto das dívidas ocultas. Nada, porém, veio cá para fora e os moçambicanos de nada sabem o que realmente se passou numa das salas da Assembleia da República.
Pese a ausência de informação pontual sobre o desenrolar das investigações que se realizam, verdade seja dita, é um ganho enorme o facto de um militante sénior da Frelimo, ainda por cima até há pouco inquilino da Ponta Vermelha, ser chamado à razão.
Isso era impensável até bem pouco tempo. Não deixa de ser um ganho enorme.
Mas aos olhos dos detractores, a ausência de informação credível em todo este cenário, incluíndo e sobretudo ao isolamento dado pela comissão parlamentar quando Guebuza lá esteve, leva a desconfiança de se estar diante de uma encenação, sobretudo com o propósito de agradar a comunidade internacional, os credores, mas essencialmente o Fundo Monetário Internacional.
Para os anti-Governo/Frelimo, tudo não passa de uma farsa e que a comunidade internacional está a ser enrolada em mais uma tramóia, e nada indica que os investigadores estão a ter o necessário sossego no trabalho que estão a realizar.
Cá para nós, vale a pena repetir que se tratando de uma primeira experiência, não deixa de ser um ganho dos moçambicanos, assistir um ex-presidente e histórico da Frelimo, cabisbaixo, embaraçado como parece estar Armando Guebuza, com ‘todo o mundo’ ansioso em ver notícias sobre o caso das dívidas ocultas.
Um ganho e uma lição para as futuras gerações de dirigentes a todos os níveis.
Mas, convenhamos, sem a pressão que o Fundo Monetário Internacional e os demais credores internacionais exercem, nada disto estaríamos a assistir. Tudo teria sido tapado por uma peneira.
Era, talvez, o que pensavam os mentores das dívidas.
EXPRESSO – 10.04.2017