Reina um clima de medo entre empresários asiáticos e europeus devido aos sucessivos raptos. Em 2016 nove empresários bengalis e um português foram raptados. No geral, a polícia não consegue prender os sequestradores.
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DW-Aumento de raptos em Sofala amedronta comerciantes
Os bengalis residentes na província central de Sofala, maioritariamente comerciantes, dizem que nos últimos anos tm sido vítimas de assaltos, ameaças, raptos e assassinatos.
Mahsun Mahdi da cidade da Beira conta um caso: "Nós ouvimos [dizer] que a família mandou dinheiro para o resgate, mas não libertaram as pessoas que tinham sido raptadas. Não estamos seguros porque existe muita bandidagem. Eles [ladrões] roubam-nos dinheiro, telefones e muito mais."
Azam Muhamad, também comerciante, disse à DW África está preocupado com a segurança: "Nós não estamos seguros, porque a situação não está boa. Sabemos que o Governo local tem feito alguma coisa para [garantir] a segurança dos estrangeiros, mas ainda é pouco.”
Em março, um outro bengali foi raptado na cidade da Beira quando regressava da Nhamatanda onde desenvolve os seus negócios. Segundo apurou a DW África, o empresário Moktar Assif depois de fazer as compras na Beira, foi raptado no alto da Manga e até ao momento não foi encontrado.
Tentativas de pagamento do resgate em troca da sua libertação foram infrutíferas. Os familiares já terão pago mais de um milhão de meticais(cerca de setenta e dois mil euros), e mesmo assim o comerciante continua desaparecido há mais de quarenta e cinco dias.
Um dos familiares de Moktar Assif recusou-se a dar mais pormenores acerca do sucedido, e disse apenas o seguinte: "Não temos nada para dizer. Como aqui em Moçambique as pessoas não ajudam, eu posso dar-lhe informações e depois sofrer as consequências. Por isso não quero falar."
Ainda não há sinais do português raptado
Em junho do ano passado Américo Sebastião, empresário português do ramo agrário e florestal, foi raptado no posto administrativo de Nhamapaza, distrito de Maringue. Feliciano Vilancaze, secretário do bairro de Nhamapaza e empregado do empresário contou à DW que "quando vem da Beira ele costuma dormir na minha residência e telefonou-me quando estava a dormir para me dizer que ia comprar combustível. Assim fiquei à espera dele e vi que estava a demorar. Mais tarde tive conhecimento através da polícia que ele tinha sido raptado."
Tomé Vasco é guarda e terá assistido o rapto do português num posto de abastecimento de combustíveis em Nhamapaza. Vasco relatou que "foi de manhã quando passou uma carrinha onde estava um branco a falar ao telefone. Abasteceu o carro e depois de terminar de falar os bandidos pegaram no homem e algemaram-no. Colocaram o homem na cabina da carrinha, trancaram as portas do carro e "bazaram" [foram-se embora]."
Vários outros bengalis têm sido vítimas de ameaças protagonizadas por desconhecidos que lhes roubam grandes somas de dinheiro quando vão para zonas muito longe no interior da província comprar gergelin, castanha de caju e feijão.
Mahdi, conta um episódio relacionado com uma dessas viagens ao interior da província: "[os bengalis] foram raptados quando alguns trabalhadores e comerciantes bengalis estavam num carro que transportava cerca de cinco toneladas de gergelin. Os bandidos pararam o carro, roubaram o dinheiro e depois, num local retirado, queimaram o carro com todas as pessoas lá dentro."
Na altura a polícia abriu um processo-crime para esclarecer o caso, mas até agora não houve um julgamento dos responsáveis. Entretanto, no que se refere ao empresário português, a polícia anunciou recentemente que vai alargar as investigações a todo o território nacional bem como aos países vizinhos.
DW – 07.04.2017