Em conversa telefónica
O «3 de Fevereiro», Dia dos Heróis Nacionais, poderá vir a tornar-se numa data mais abrangente, passando a honrar todos aqueles que de uma forma ou doutra deram o seu contributo para a causa da independência nacional. Nomes como os de Adelino Chitofo Guambe, Urias Simango, Joana Simião e até o de Lázaro Kavandame, poderão a breve trecho figurar entre as conhecidas personalidades de prestígio nacional, cujos restos mortais encontram-se depositados na cripta situada na Praça dos Heróis em Maputo.
Tudo começou com uma proposta do Presidente da República de Moçambique, Jacinto Nyusi, apresentada a Dhlakama numa das habituais conversas telefónicas que o chefe de Estado moçambicano tem vindo a manter com o líder do maior partido da oposição no quadro do reforço da paz e da democracia pluripartidária, a fim de se declarar uma “amnistia geral por actos praticados em conflitos armados posteriores à assinatura do Acordo Geral de Roma”. Nyusi terá informado o presidente da Renamo ser sua intenção revestir as negociações em curso “sob o manto de reconciliação nacional”.
Dhlakama é apontado como tendo aceitado a ideia, mas, segundo fonte ligada à Presidência da República, que pediu para falar no anonimato, “ele depois apresentou uma contraproposta segundo a qual, em vez de amnistia pontual plasmada no projecto inicial de Sua Excelência Engenheiro Filipe Nyusi, as partes declarariam uma política de reconciliação nacional”, cobrindo moçambicanos de todos os credos políticos, incluindo aqueles que a história tem votado ao ostracismo e os que se confrontaram de forma letal durante o período que se seguiu à assinatura do AGP.
Desconhece-se a reacção do Presidente Nyusi à sugestão do líder da Renamo. Entidades próximas da sede da Renamo em Maputo, defendem que Nyusi encontra-se perante situação delicada, face à contraproposta de Dhlakama. Por um lado, o Presidente Nyusi vê toda a vantagem em projectar uma imagem de estadista apostado na reconciliação da grande família moçambicanas, mas, por outro, receia um aproveitamento político que a oposição poderá vir a fazer, evocando as circunstâncias do desaparecimento de figuras até hoje tidas como “reaccionárias” ou “traidoras”, disseram as retromencionadas entidades.
O politólogo José Pereira considera que Afonso Dhlakama dificilmente poderia aceitar a proposta tal como apresentada pelo chefe de Estado moçambicano por isso “equivaler a passar uma esponja sobre episódios como as alegadas valas comuns, os esquadrões da morte, os raptos e baleamentos de pessoas conotadas com a Renamo”. Pereira considera que “em vez de amnistia, Dhlakama pretende algo de maior amplitude política, inserido na linha apaziguadora e moderada que tem adoptado desde que se refugiou nas matas de Gorongosa, apesar dos concertados ataques militares de que até recentemente foi alvo”.
Em declarações à LUSA, o edil da segunda maior cidade moçambicana, Eng. Daviz Simango, disse “a concretizar-se a ideia conceptual, estaremos a trilhar com confiança a via conducente à paz e reconciliação nacional”, acrescentando ser “tempo da grande família moçambicana abraçar-se e esquecer rivalidades.” Para o líder do MDM, esta formação política “preconizou desde seu surgimento a reconciliação nacional e nunca utilizou factos passados para somar pontos”, numa aparente referência ao sucedido a seus progenitores.
AC // LMD
Lusa - 01.04.2017