Cá p’ro meus botões
SÃO pouco católicos os esclarecimentos policiais em torno do bem sucedido resgate de dois presos que vinham na boleia de um carro-celular, na baixa da cidade de Maputo.
Os presos Ali Godinho e José Muchanga, a cumprir pena de prisão maior nas celas do Comando da Cidade e não nas da Brigada Operativa, a famosa BO, sob os auspícios do Serviço Nacional Penetenciário (SERNAP), já haviam descontado três anos desde a altura da condenação pelos tribunais.
Por qualquer razão, os dois vinham sendo guardados pela Polícia e não pela guarda especificamente treinada para esse fim.
Melhor, as celas do Comando da Cidade são da inteira responsabilidade da Polícia, e as celas da Brigada Operativa (BO) da guarda do SERNAP.
Isto pese o facto de as celas do Comando serem uma extensão das da BO.
A Polícia diz que os dois presos estavam a ser momentaneamente transferidos para a 1ª Esquadra, sita na baixa da cidade de Maputo, para interrogatórios, em virtude de terem tentado se escapulir das celas do Comando da Cidade.
Para isso, tinham de ser levados do bairro central, onde se situa o Comando da Cidade, para a baixa, num trajecto realizado em plena hora de ponta e recorrendo a via mais célere, é verdade, mas provavelmente previamente engendrada para permitir que o resgate acontecesse, como aconteceu.
Aquí, restam poucas dúvidas sobre a ocorrência de fuga de informação entre o Comando da Cidade e os assaltantes do veículo-celular, pelo que se diz, da Polícia de Investigação Criminal (PIC).
Mais grave ainda, a provável inexistência de ordem judicial para aquela transferência dos presos, do bairro central para a baixa, que acabou dando no que deu.
Não menos grave é que os interrogatórios nem sequer deviam acontecer noutro lugar que não fosse nas próprias celas onde os tipos se encontravam a cumprir as penas de prisão maior, i.e., no Comando da Cidade.
Ainda a versão da Polícia, para além da vã tentativa de fuga, Ali Godinho e José Muchanga teriam cometido ofensas corporais contra os outros presos. Daí os interrogatórios que nem chegar a acontecer.
Por tudo isso, é fácil concluir haver aqui trafulhice que urge investigar e esclarecer publicamente.
E os trafulhas não são uns ‘zé ninguém’, mas uma turma inteira recheada de gente graúda com poderes bastantes para chamar a si os dois presos no Comando da Cidade e não na BO. Logo, longe dos auspícios da SERNAP e da sua guarda prisional.
Outrossim, não deixa de ser de um gozo a série de tiros disparados a torto e a direito, sem que nenhuma bala fosse em direcção à cabine, onde se encontrava o motorista e o acompanhante, ambos ilesos da artimanha.
Que trafulhice…
EXPRESSO – 26.04.2017
NOTA: Pelas fotos já vistas se nota que os disparos foram laterais para a caixa do veículo, talvez intencionalmente para que os passageiros da cabine não fossem atingidos.
Mais uma história para ser contada aos nossos netos…
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE