Por Capitão Manuel Bernardo Gondola
Você vê, fazem-se grandes esforços para liquidar o analfabetismo entre a população adulta. A construção de hospitais e policlínicas e o aumento do pessoal médico qualificado resultam numa certa diminuição da mortalidade. Sobretudo, da mortalidade infantil. Na verdade, os êxitos dos países africanos são inegáveis, embora a sua situação económica geral continue bastante grave. Com efeito durante as décadas de 70/80/90, a situação económica da maioria dos nossos países do continente agravou-se. A maioria esmagadora dos Estados africanos ingressou naquelas décadas num ambiente de amargura e de grande desilusão. Muitos dos nossos países foram grandemente afectados por Guerras civis, pelos golpes de Estados sangrentos, crise energética provoca pela política das corporações petrolíferas transnacionais, uma série de secas e calamidades naturais consecutivas fizeram e continuam a fazer muitos Estados africanos aumentar a importação de alimentos, e não só.
Hoje, você vê, a principal causa das dificuldades, que os Estados africanos atravessam é a continuação do saque perpetrado por nacionais e estrangeiros, o que reflecte até certo ponto a sua orientação para uma estratégia de desenvolvimento. Ao mesmo tempo, o estudo das fontes internas da acumulação comprova que a maioria dos Estados africanos depara com grandes dificuldades na mobilização dos rendimentos orçamentais. Ao lado, a situação económica mundial representa um importante obstáculo para o desenvolvimento económico e social do nosso continente. Tal que cria importantes dificuldades para a solução de problemas actuais e muitos destes problemas têm um carácter global e que dizem respeito a humanidade.
Entre as dificuldades com que depara o continente, convém ressaltar em especial o problema do desemprego juvenil. O número de pessoas desemprega no continente todo pode atingir mais 120 milhões de pessoas. As causas deste fenómeno segundo a
Organização Internacional Trabalho (OIT) é a profunda deformação da reprodução social, que surgiu ainda na época colonial, assim como alto ritmo do aumento da mão-de-obra por causa do crescimento rápido da população e do ritmo retardado do desenvolvimento económico dos nossos países.
Para avaliar correctamente as perspectivas de desenvolvimento do nosso continente, não se pode deixar de ter em conta o factor demográfico. O índice de nascimento no nosso continente é o mais alto do mundo, embora o índice de mortalidade também seja muito grande 19,8 em 1000. Destarte, nos últimos anos o índice de crescimento da população africana continua superior a 2,6%¹.
Um Documento de qualidade impressionante, indica que em 1975 havia em África 401 milhões de habitantes, porém até ao ano 2000 a população africana já tinha superado mais 813 milhões. Segundo aquele Documento de qualidade impressionante, indica que a população activa do nosso continente subiu no fim do século passado para aproximadamente 280 milhões de pessoas. De modo que, devemos considerar que nas condições actuais da dinâmica de desenvolvimento apenas pouco menos 50% deles poderão obter trabalho¹. O desemprego afectará de forma especialmente séria as regiões agrícolas. Aquele Documento avisa, que foi calculada que se o ritmo de desenvolvimento dos Estados africanos não aumentar e não forem tomas as respectivas medidas, nos primeiros 25 anos do terceiro milénio haverá um agravamento de mais 70 milhões de pessoas desempregadas total ou parcialmente no nosso continente².
Você vê, infelizmente, continua a verificar-se também nos nossos países um importante agravamento da crise na esfera da provisão de alimentos. Na maioria dos nossos países, o volume de produção de alimentos nem sequer basta para assegurar a ração (alimentação) mínima indispensável. Segundo um outro Documento de qualidade impressionante, um em cada quadro habitantes do nosso continente passa fome ou não tem alimentação suficiente; muitos dos nossos países não poderão satisfazer as necessidades das populações em alimentos fundamentais até 2050. O crescente défice de alimentos é um resultado objectivo da influência nefasta das leis do modo de produção capitalista sobre os processos económicos mundiais. Você vê, o sistema de
divisão internacional do trabalho, engendrado pelo capitalismo, condiciona nos países africanos um nível extremamente baixo de desenvolvimento dos ramos da economia em que se efectua a produção e a conservação dos alimentos.
O aumento acelerado da procura de alimentos começa a ser determinado cada vez mais pela urbanização, cujo ritmo no nosso continente é um dos mais altos do mundo todo. A urbanização resulta não só no simples crescimento da procura de alimentos, mas também na mudança qualitativa da ração da população. Você vê, hoje aumentou bruscamente em muitos dos nossos países a procura de componentes altamente nutritivos da ração e o abastecimento destes produtos à população depende cada vez mais do intercâmbio nacional e internacional.
A importação de alimentos requer o pagamento de importantes somas em divisas estrangeiras, sobretudo em dólares. Ao mesmo tempo, o problema de reservas de divisas continuará a agravar pois o défice dos nossos países. De um lado, com a revolução técnico-científica, os conhecimentos adquiriram uma importância especialmente grande para os países africanos. Você vê, hoje a ciência e a técnica tornaram-se uma força produtiva da sociedade. Simultaneamente, a sociedade Ocidental, só fornece aos países africanos os conhecimentos científicos que lhes convém; os Governos dos Estados Ocidentais não estão interessados para que os países africanos recebam a tecnologia de que necessitam, e se o fazem impõem limites que acham vantajosos. A fuga de inteligências dos nossos Estados é um facto lamentável, mas real. Naturalmente, neste caso muita coisa depende da posição ocupada pelo Governo de um determinado país à utilização dos Quadros nacionais. É fundamental nesta esfera delinearem-se mudanças positivas. É preciso tomar medidas determinadas a fim de diminuir a fuga de inteligências, para os países Ocidentais.
O estudo dos processos da evolução histórica dos países africanos nos últimos 50 anos revela de maneira cada vez mais clara e precisa a crescente divergência entre as duas vias principais (socialismo/capitalista), e a escolha de uma delas determinou tanto a polarização das forças sociais dentro dos nossos Estados como as posições no palco internacional. Certamente, no momento da conquista da independência, os nossos países distinguiam-se consideravelmente uns dos outros quanto aos níveis de
desenvolvimento, económico, político e social. Estas desproporções nos níveis e no grau de maturidade das relações infelizmente continuam a existir também hoje.
Na verdade, com ajuda e da análise da Documentação feita mostra tanto o carácter complexo e contraditório do problema de desenvolvimento dos nossos países, como a existência de importantes possibilidades reais para a sua superação.
Com efeito, somente em condições de paz efectiva é que os países africanos poderão concentrar realmente os esforços na solução dos problemas económicos tão complexos.
n/b:
Aqui dados dos cálculos estatísticos se não houver referências a outras fontes.
¹ Calculado por: Recursos Minerais da Industria dos Países Ocidentais e dos Países em Vias de Desenvolvimento.
¹Yearbook of Industrial Statistics, ½, NY
² Ver: Survey of Economic and Social Condition in Africa.
² Ver: Forças Produtivas de África. Ver: Southern Africa, the Escalation of a Conflict, Sotockholm.
² Calculado por: FAO, Roma. Ver: FAO Regional Food Plant for África.
®Um amigo nosso queixou-se semana passada dizendo, que eu era simplista ao ver o problema da África (África Sub-Shaariana) apenas sob ponto de vista económico descartando questões como; desenvolvimento humano e a má governação. Não!?... Eu não estou desconhecendo a tua colocação, eu só usei o caso apenas para ilustrar isso.
Manuel Bernardo Gondola