Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected])
O que mais fazemos na vida é gastar as energias em milhares de ações sem sentido e em tantas causas sem ideal! Pe. Manuel Maria Madureira da Silva, in Questões Fraturantes, 2016, p. 10.
Seremos sempre os melhores quando formos capazes de fazer a diferença. Este é um lema que tenho vindo a defender há muitos anos aqui neste jornal. Para que o país saia definitivamente do pódio das estatísticas de pobreza é necessário que cada moçambicano faça a diferença, na indiferença. Não é o problema de dinheiro que nos coloca nessas situações de pobreza, é a falta de vistas largas para fazer a diferença deste “mundo cão.”
Penso que a direcção máxima da Rádio Moçambique leu os sinais do tempo e está a imprimir uma nova dinâmica na forma de comunicar com o povo. Afinal, “o povo é quem mais ordena.” Através do site www.rm.co.mz já é possível ouvir, além da Antena Nacional, o emissor provincial de Gaza, o emissor provincial de Sofala, o RM-desporto, e muito em breve juntar-se-á o emissor provincial de Nampula.
Aqui está uma resposta do que é ser um serviço público. Note-se: um serviço público inteiramente virado aos interesses do cidadão. Isto sim merece aplausos. É isto que deve ser feito em prol da Unidade Nacional: permitir que os moçambicanos se comuniquem em suas línguas locais. O serviço público é exactamente isto: permitir que o povo exerça a sua soberania e a sua cidadania, em particular. Com estas transformações, a RM está a ser um poderosíssimo motor de comunicação a puxar pela cultura.
Quem está no estrangeiro tem agora a oportunidade de estar mais perto das suas raízes culturais. Como é o meu caso, essas raízes alimentam-me. Sou tetense e alegro-me quando ouço os noticiários, os programas em línguas xindau e xisena, que são parentes próximas do cinyungue. Sabe sempre melhor ouvir, por exemplo, “eu te amo” em línguas maternas do que em português. Por isso, vale a pena promover as línguas nacionais, porque elas nascem do “útero” do nosso ser. Ou seja, elas nascem da nossa mãe natureza. O português é para nós, uma língua exótica.
A Rádio Moçambique deve actuar como uma espécie de “dobradiça” ou de “joelho” entre “nós” e a “nossa” cultura. A natureza fala e emite recados importantes, mas nós a ignoramos, porque estamos possuídos por outros hábitos e culturas. Para reforçar os aspectos já expostos, a Rádio Moçambique deve embriagar-nos com a graça da nossa cultura e não com vacinas políticas e ideológicas.
Durante muito tempo assistiu-se na Rádio Moçambique uma degradação da qualidade dos serviços públicos, a mediocridade era uma sina da casa, programas culturais deixaram de existir, a história do país (mesmo com as suas mitologias) deixou de ser contada, a reflexão era proibida, defendia-se o dogmatismo, mutilando o livre pensar. Felizmente há fortes sinais de inversão de marcha. Sinto no actual conselho de administração um enorme entusiasmo para fazer a diferença. Só não vê quem não quer. Não nos esqueçamos que os níveis de escangalhamentos foram tão evidentes que as seringas eram inúteis para as nádegas calejadas.
Espero que esses serviços funcionem sem remendos. É cultura do nosso país, raramente conseguimos manter operacional e por muito tempo aquilo que beneficia o povo, apostamos sempre, sempre e sempre na mediocridade.
Zicomo e um abraço nhúngue ao Pe. Manuel Maria Madureira da Silva com quem estive recentemente em Évora e de quem ganhei mais uma obra literária “Questões fracturantes” (e uma linda dedicatória “Ao Viriato Dias com gosto pelo gosto em ler).” Também ao Pe. Aniceto Dangala, meu protector espiritual, vai um abraço nhúngue e os meus cordiais cumprimentos. E as crianças, pelo dia primeiro de Junho, um beijo nhúngue no coração.
WAMPHULA FAX – 29.05.2017