Várias jovens no Gana entendem que o tom de pele mais claro é determinante para arranjar namorado. Escolas começam a sancionar alunas que optam por branqueamento da sua pele, enviando-as para casa.
O branqueamento de pele é uma prática muito comum no Gana. E parece estar a tornar-se uma moda também nas escolas secundárias onde as jovens entendem que o tom de pele mais claro é determinante para arranjar namorado e conseguir uma melhor valorização aquando do casamento. As autoridades condenam a prática e já há escolas a enviar as adolescentes que optam pelo branqueamento de pele para casa.
Este é o último sábado antes do casamento de Khadija. Como manda a tradição, ela tem uma marcação no Diamond Images Salon, um salão de beleza local. "É tempo de pôr a pele a brilhar”, afirma a jovem, acrescentando que o faz para "parecer bem para o meu marido”.
Como muitas outras mulheres, os preparativos de beleza para o dia do casamento de Khadija, começaram neste mesmo salão há três meses atrás. "Talvez porque a cor a pele da mulher determina o seu valor nupcial”, explicou à DW África, Irene Konlan, que tem levado a cabo uma campanha contra o branqueamento de pele no país. "O que eu observei é que quando se está a três meses do casamento, elas mudam a sua cor de pele. De acordo com elas, quanto mais clara a sua pele, mais valorizada a noiva é”, acrescenta.
Aos 23 anos de idade, Irene viaja de escola em escola apregoando contra esta prática. No auditório da Escola Secundária Savalegu, mais de 2000 estudantes apareceram para ouvir o que têm, Irene e a sua equipa, para dizer. E a mensagem é simples – "ama a tua pele” – implora ela aos adolescentes. Irene explica que a seu ver, o que era suposto ser uma prática de "amor próprio”, acaba por tornar-se "auto-ódio”, uma vez que, como frisa, "a beleza do branqueamento não dura mais do que dois anos. E os efeitos colaterais começam a aparecer”.
No entanto, muitas são as adolescentes que ainda preferem optar pelas consequências para a sua pele. Afirmando que as raparigas fazem o branqueamento para "atrair a atenção dos rapazes”, uma estudante desta escola entrevistada pela DW, dá conta de qual é a preceção desta realidade entre os jovens: "Se és negro é como se não fosses nada. Eu tenho orgulho na minha cor de pele. Sou negra e tenho orgulho nisso. Deus deu-me esta cor de pele, por que hei-de ficar com raiva disso…”, afirmou.
Escolas condenam branqueamentos
A DW África visitou uma outra escola no Gana, onde a prática é abundante. Recentemente, as autoridades da escola enviaram algumas estudantes para casa – até que recuperem o seu tom de pele normal. O que deixou muitas raparigas infelizes.
O código de ética do Serviço de Educação do Gana é totalmente contra o branqueamento da pele. E o professor Dominik reforça isso mesmo."A política educativa não encoraja o branqueamento. Atualmente, condenamos essa prática”, afirma o docente, admitindo, no entanto, que é difícil saber o que fazer com o fenómeno na escola.
Apesar das autoridades condenarem a prática, existem jovens que continuam a pensar que terão mais sorte com os homens se branquearem as suas peles. "Quero tornar a minha pele mais atraente. Lembro-me de estar com um rapaz e ele dizer-me que odeia raparigas negras. Os rapazes aqui não gostam de ti porque és preta e, às vezes, isso dificulta a integração e então, tu acabas por não ter opção e fazes [o branqueamento], explicou à DW uma jovem.
Mavis, outra estudante, não tem a mesma opinião. Pelo contrário, tem orgulho no seu tom de pele. Segundo ela, "a perceção neste campus é que se fores negra não irás ter um namorado. O meu namorado sempre me diz que gosta da minha cor e que eu deveria permanecer assim”.
No entanto, no Gana, Mavis é a exceção e não a regra. Oficialmente, os produtos que contêm agentes branqueadores são proibidos, ainda assim é fácil conseguir obtê-los. As raparigas adolescentes ignoram as consequências que esta prática pode ter na sua pele. Às vezes, os pais também não concordam com as políticas oficiais e também eles querem que as suas filhas melhorem a sua beleza para conseguir um melhor valor aquando do noivado, no futuro.
DW – 22.05.2017