A directora da consultora moçambicana New Capital considerou hoje à Lusa que as autoridades têm de ter uma posição muito firme face ao relatório da Kroll sobre a dívida escondida e lamentou a existência de "muita corrupção".
Em entrevista à Lusa no seguimento da sua participação na conferência Horasis Global Meeting, que termina hoje em Cascais, perto de Lisboa, a directora da New Capital, Iris de Brito, disse que "é preciso que o Estado tenha uma posição muito firme, seja ela qual for, e que defenda os interesses dos moçambicanos".
A consultora internacional Kroll entregou em Maio o relatório sobre a dívida escondida à Procuradoria-Geral da República, devendo ser publicado um sumário com as conclusões nas próximas semanas.
A realização e a divulgação desse relatório é uma das condições impostas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial (BM) para retomar as conversações que poderão levar à continuação da ajuda financeira a Moçambique, um país que enfrenta uma crise económica e financeira no seguimento da divulgação de 1,4 mil milhões de dólares em dívidas não reportadas e ao corte do financiamento internacional.
"O FMI e o BM estão com vontade de ajudar, são amigos de Moçambique, querem apoiar o país a sair desta situação, mas sozinhos não conseguem fazer nada, a responsabilidade é toda de Moçambique, as organizações financeiras internacionais não são um bicho, não são o mau da fita", considerou Iris de Brito.
Sobre o volume de investimento estrangeiro em Moçambique no ano passado, a directora desta consultora especializada no aconselhamento ao investidor externo confirmou que em 2016 "houve uma grande retracção de investimento estrangeiro” que esteve “praticamente estagnado", mas salientou que a vontade de investir mantém-se.
"A vontade de investir no país nunca desapareceu, é uma questão de tempo e de cautela dos próprios investidores, que estavam à espera de melhores momentos", que espera que surjam agora.
Ainda assim, sublinhou, "não é fácil investir em Moçambique", um país que está nos últimos lugares do ‘ranking’ do Doing Business e onde há "muita corrupção de baixo nível".
Iris de Brito explicou que "é preciso conhecer muito bem como funcionam as entidades, é preciso melhorar o ambiente de negócios, porque há muita corrupção de baixo nível, por exemplo para fazer um registo, se um estrangeiro for sozinho pode demorar três meses, mas se for um moçambicano, consegue numa semana".
O truque para os investidores externos, apontou, é "ser muito bem apoiado por alguém que perceba mesmo do que está a fazer e conheça os trâmites que devem ser seguidos", além de encontrar um parceiro local "com boas referências".
O investidor externo, que pode encontrar na agricultura, indústria e turismo boas oportunidades de negócios, "precisa de ser persistente, há muita burocracia, é preciso bastante trabalho, não é chegar e vencer", concluiu Iris de Brito.
Lusa – 30.05.2017