Um estudo desenvolvido na costa norte do país pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF) e Moçambique, em parceria com a Wildlife Conservation Society (WCS), permitiu descobrir áreas de refúgio que protegem os corais dos efeitos das alterações climáticas.
No entanto, apesar de possuírem uma resiliência natural, estas áreas estão ameaçadas pela sobrepesca.
O estudo analisou dados de 66 recifes de coral recolhidos entre os anos de 2008 e 2015 nas áreas urbanas de Nacala e Pemba, no Parque Nacional das Quirimbas, e nas proximidades da ilha de Vamizi, no extremo norte da província de Cabo Delgado.
Entre as principais conclusões, recentemente publicadas no jornal Ecosphere, os investigadores Timothy McClanahan e Nyawira Muthiga destacam que alguns recifes encontrados nestas áreas oferecem condições naturais para a existência de dois tipos de refúgios com potencial para ajudar os corais a adaptarem-se aos efeitos das alterações climáticas.
Numa altura em que o aumento da temperatura da água do mar ameaça grandes áreas de coral a nível global, a identificação de recifes como estes, também conhecidos como Recifes de Esperança, é tida como uma grande prioridade para grupos conservacionistas como o WWF e a WCS.
No caso das duas áreas de Recifes de Esperança encontrados no país pelos investigadores, o primeiro tipo ocorre num ambiente com uma variabilidade suficiente para a adaptação dos corais, e sem temperaturas (da água) extremas que os matariam.
O segundo tipo encontra-se em zonas de maior profundidade e, por isso, com temperaturas da água mais frias, mas com um espectro de luz que permite que muitas espécies prosperem e evitem o stress provocado pelo calor.
O último refúgio está associado a canais de navegação que apoiam comunidades costeiras e centros de pesca intensiva, tendo os investigadores descoberto que estão, neste momento, a ser procurados por pescadores, depois dos recursos de recifes próximos terem sido esgotados por formas de pesca não-sustentável.
Dada a diversidade da localização dos recifes estudados, os investigadores esperavam encontrar maiores níveis de biomassa de peixe em áreas remotas e protegidas, em particular nas que se encontram dentro do Parque Nacional das Quirimbas.
No entanto, verificaram a existência de evidências alarmantes de sobrepesca, número reduzido de espécies, e o aumento da ocorrência de ouriços-do-mar e o crescimento de algas, que ameaçam os corais quando não são controlados por espécies predadoras de peixes.
Neste contexto, o estudo sugere que as áreas onde se localizam os refúgios de coral mantenham uma biomassa de peixe mínima de 500 quilogramas por hectare. Por outro lado, recomenda que sejam introduzidas restrições ao uso de determinados equipamentos de pesca, e que seja vedada à actividade pesqueira em zonas específicas.
Em relação ao Parque Nacional das Quirimbas, é ainda recomendado a melhoria na aplicação das normas regulatórias existentes, segundo um comunicado de imprensa da WWF recebido hoje pela AIM.
A área avaliada pelo estudo faz parte do triângulo de alta biodiversidade dos recifes de coral, formado pela costa norte de Moçambique, norte do Madagáscar e sul da Tanzânia, na região ocidental do Oceano Índico. As conclusões serão usadas pelo WWF e parceiros para promover o desenvolvimento de uma estratégia de adaptação às alterações climáticas para a região.
LE/DT
AIM – 25.05.2017