O Presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, já começou a desconfiar que o atraso do processo de retirada das posições das Forças de Defesa e Segurança (FDS), ao longo do distrito da Gorongosa, na província de Sofala, seja resultado de falta de coordenação entre os vários comandos que compõem o efectivo estacionado naquela região. As 26 posições das Forças de Defesa e Segurança incluem homens das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), assim como, elementos da Guarda Fronteira.
Apesar desta realidade, Dhlakama não tira o comando a Filipe Nyusi na qualidade de Comandante em Chefe das Forças de Defesa e Segurança, mas coloca a hipótese de o Presidente da República, porque jovem de idade e novo em matérias de governação e comando militar, estar a enfrentar dificuldades de compreender e monitorar aquilo que as partes acordaram.
“Portanto, ele (Filipe Nyusi) sabe das demoras, ele sabe das lacunas, da falta de coordenação entre ministérios, porque isto é uma componente misturada e temos forças da Intervenção Rápida, que pertencem ao ministério do Interior, usando o fardamento das FADM, e temos mesmo as FADM que pertencem o ministério da Defesa, e depois é uma confusão, não há coordenação entre ministérios, e ele (Filipe Nyusi) é novo no poder” – disse Dhlakama, em entrevista, esta quarta-feira, ao semanário SAVANA, dando a entender que o Presidente da República está a enfrentar alguma resistência.
Nisto, Dhlakama acredita que do ponto de vista de coordenação de comandos esteja haver o que se pode chamar “desorganização organizada”, tudo na perspectiva de atrasar o processo.
“(Joaquim) Chissano e (Armando) Guebuza foram presidentes, não é fácil, mas eu não quero achar que ele esteja isento, que haja indisciplina, ele tem conhecimento, a isto chamaríamos de uma desorganização organizada” – disse Dhlakama, acreditando, entretanto, que, por fim, “acabarão por se retirar, porque não foi uma conversa particular entre Dhlakama e Nyusi”.
A tese de organização desorganização foi levantada, implicitamente, já há algum tempo e adensa-se com a aproximação do XI Congresso da Frelimo. É que se entende que algumas chefias das Forças de Defesa e Segurança continuam fieis à administração guebuziana e, em algum momento, convém marchar no sentido contrário ao caminho que quer ser trilhado por Filipe Nyusi, exactamente para expor publicamente as fragilidades do actual Presidente da República. É que, publicamente, Filipe Nyusi ganha notoriedade e capital político com os caminhos positivos que o dossier paz está a conseguir alcançar.
Caso o processo falhe, o Presidente da República não poderá avançar nos moldes que pretende no que concerne à restruturação do partido durante o XI Congresso. Ontem, quinta-feira, o líder da Renamo voltou a abordar o dossier paz, reiterando a sua preocupação pela lentidão do processo. Entretanto, manteve a esperança de que as coisas irão correr bem, tendo em conta que o prazo de retirada dos efectivos das FADS só vai terminar a 30 do corrente mês.
MEDIAFAX – 16.06.2017