ORDEM PARA O SILÊNCIO
Nas vésperas das eleições gerais de 2014, o Fórum Nacional das Rádios Comunitárias (FORCOM) recebeu um financiamento da União Europeia para implementar, em 17 rádios comunitárias, um projecto virado para a consciencialização dos cidadãos sobre a importância das eleições, cujo objectivo era reduzir os elevados níveis de abstenção nos distritos onde se encontram instaladas as rádios. O projecto consistiu em capacitar as rádios em matéria de cobertura eleitoral e prestar-lhes apoio em equipamento e em subsídios financeiros. No final do programa, foi feito um estudo de avaliação do projecto, que chegou à conclusão de que nas vésperas, durante e depois das eleições, as rádios tinham desempenhado um papel primordial, o que resultou, de facto, na redução substancial dos níveis de abstenção1.
O estudo mostrava que as rádios comunitárias nos distritos eram os principais meios de comunicação social, liderando largamente a audiência em detrimento da Rádio Moçambique e das televisões mais vistas nas zonas onde as rádios operam, como a Televisão de Moçambique (TVM) e a Soico Televisão (STV).
A cobertura eleitoral – pelo facto de os jornalistas das rádios terem pautado pela isenção e equilíbrio – despertou o partido no poder sobre o papel e impacto que as rádios comunitárias provocavam nos distritos, mais do que a Rádio Moçambique e as televisões. Desde as eleições de 2014, há um esforço do Governo de asfixiar as rádios comunitárias filiadas ao FORCOM, já em situação precária, para a posterior, o mesmo Governo propor-lhes apoio material e financeiro, através de organismos por si controlados. Em troca, garante-se salários para os jornalistas que trabalham em regime de voluntariado2.