Várias são alegações ao redor do Mundo, de pessoas que supostamente fizeram pacto com o diabo na perspectiva de ganhar fama, dinheiro, poder, etc, acções bastantes normais para aqueles que tem a ganância de subir rápido na escada da boa vida, custe o que custar.
Aliás, nesta nossa África, quantas vezes, incrédulos, assistimos a casos de famílias inteiras que são dizimadas por supostos pactos feitos por seus ancestrais, ora para ter dinheiro, ora para produzir muito na machamba, ora para ser visto como mais poderoso, estórias que só não são história porque a nossa sociedade não está preparada para destampar o véu da ignorância.
Longe de mim trazer aqui abordagens epistemológicas do Mundo sobrenatural e supersticioso, apenas vale-me a possibilidade de questionar como vivente destas bandas de África material e existencialmente falhada, em busca do normal e coerente, não obstante o facto de caminhar cada dia com a confirmação de que a nossa desgraça como Povo está a atingir níveis de manicómio.
Dizem os conhecidos na matéria que o pactante, depois de assumir as cláusulas contratuais, pode oferecer em troca a sua alma. Com a realização deste acto, ele não se preocupa mais com o que faz, o que diz, o que pensa, como pensa, para quem pensa, apenas está feliz por ter atingido o lugar que tanto lutou para alcancar, nem que isso signifique insultar, pisar, humilhar, qualquer que apareça no seu caminho para por em causa o seu doce pesadelo de quem está acima de tudo por ser delfim dos interesses do diabo.
Este introito vem a propósito daquilo que temos estado a acompanhar no nosso País, desde que este governo tomou posse, em 2015. Primeiro ouvimos o mais Alto Magistrado da Nação a dizer que o povo era seu patrão, e tudo faria para este patrão. Emocionante e de fazer corar os incautos, mas era apenas uma preparação psicológica daquilo que estava por vir mais tarde. O próprio, depois de sentir o gosto pela humilhação do pobre moçambicano, veio ao público e disse que “não gostaria de pedir, ajoelhar, a pedir a paz” – O Poder já tinha lhe subido a cabeça. Tudo podia fazer pelo “patrão” menos se ajoelhar para que este patrão tivesse Paz (Mania de grandeza, de todo poderoso).
Mas era o normal de um País que já ouviu governantes a chamarem moçambicanos de marginais apenas por saírem à rua manifestar o seu descontentamento pelo elevado custo de vida, já viu uma governante sácia de bom glamour de vinhos comprados às custas do suor do pacato cidadão, a arrotar palavras de tacanha pequenez, ao dizer que as pessoas deviam comer miudezas de frangos nas festas da passagem do ano.
Ora, meses depois do nosso empregado de elite ter dito que poderá tudo menos se ajoelhar para o patrão, um grupo inteiro de engravatados, os chamados ministros, alguns vices, seus assessores e concubinas, estavam sob o ar condicionado do palácio da presidência para decidir que devíamos cultivar Tseke, como estratégia global de luta contra a fome, seja ela da razão ou do umbigo. Foi o fim da linha da razoabilidade!
A partir dai, comecei a ficar preocupado com todo o executivo, comecei a ter desconfianças sérias de que, se o problema não era psíquico, estava a atingir a esfera espiritual, mas não conseguia imaginar que todos aqueles senhores e senhoras não tivessem tomado o remédio da panelinha.
Quando parecia que a réstia de bom senso estava gravitando sob a cabeça dos ministros, eis que aparece o balde de água fria do ministro que mais achávamos que, devido à barba branca e calvície que apaixonadamente engaveta o miolo, podia dar um pouco de pedagogia aos seus pares, mas mais uma vez, a nossa sempre expectante paciência nos enganou.
De repente, como um Kamikaze da imbecilidade, aparece às câmaras e: BUM, descarrega uma diarreica declaração de fazer miar o Leão. Mandar os nossos petizes a estudar nas sucatas, sucatadamente sucatadas pelos sucatadores deste vendido País, foi um certificado final de um fracasso colectivo de um governo desgovernado, sem liderança, sem visão.
O senhor comportou-se como tudo, menos mesquita, aquele espaço que ensina o Corão e as boas acções, de amor e fraternidade, de paciência e razoabilidade verbal, mesmo em tempos de crise, seja ela provocada, inventada ou simplesmente visível e sentida pelos outros.
Mas atenção Moçambique! Mandar os nossos pobres meninos estudar nas sucatas pode ser visto como aberração, mas se entendermos a declaração entusiasticamente proferida como modos operandi daquele grupo que governa este País, então a declaração é, na verdade, uma manifestação pública do pensamento daquele rebanho que, às cegas e com ar de grandeza falida, acha que pode aparecer e dizer o que lhe apetece e nada lhes acontece.
Achar que ele falhou ao dizer o que disse, seria não reconhecer que o mérito daquele posicionamento deve ser dado a quem é o líder principal daquele grupo, e, acima de tudo reconhecer finalmente que a mística presença demoníaca lidera sem sombras de dúvidas a acção governativa deste País.
Os teóricos dos pactos dizem que o pacto só se fortifica, entre outras coisas, com a indignação social, a criminalidade em expoente, com ódio, com falta de perdão, com humilhação de outrem, e quanto mais isso acontece, mais o poder requerido pelo pacto aumenta para aquele que se beneficiar dele.
Depois de tanto buscar os motivos de tanta incompreensão do que se passa na cabeça desta malta, tive finalmente a resposta de que só pode ser um pacto diabólico que estes senhores fizeram, em fila, cada um a ser chamado de vez em quando. Me desculpem por ser sincero pois não vejo outra justificação para o ultraje que a moçambicanidade tem sido sujeita senão essa.
Cidadão Atento Jr
(Recebido por email)