Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected])
Quando as chefias não passam de pequenos merceeiros ou de aselhas iletrados não se pode esperar muito. Ou melhor: pode esperar-se que não legarão nada de importante para o futuro. Extraído de uma conversa com o amigo José Soares
Tenho imensas saudades dos tempos em que as televisões debatiam o pulsar do país. Eram autênticas “arenas” do diálogo, onde se arquitectava o futuro do país. Os jornalistas exerciam a profissão sem olhar para o vil metal.
Amordaçados pelo pérfido capital e interesses políticos, hoje os jornalistas não investigam. São, por defeito de fabrico, incendiários. A maior parte deles têm o hábito de agitar a brasa para provocar incêndios. Querem a podridão da notícia, pois não lhes interessa a deontologia profissional. É evidente que, na classe jornalística, há algumas excepções de competência que não cabe aqui elencar para não cair na injustiça.
Grande parte desses jornalistas competentes, infelizmente, emigraram para outras profissões, deixando órfãs as televisões, rádios, jornais, etc., etc., etc. E o que dizer das chefias dessas televisões? Salvo esporádicas excepções, muitos deles tornaram-se “candongueiros de almas.”
A par disso, os temas que são levados ao debate deixaram de reflectir o país. As nossas televisões perdem tempo demais em debater assuntos do estrangeiro. Estão mais focados no estrangeirismo. Qualquer que seja o acontecimento que ocorre no estrangeiro, às vezes de menor relevo, é motivo para convidar um complô de analistas (com a mesma retórica) para debitar opiniões completamente improdutivas.
Esses debates não os tornam especiais, pelo contrário, expõem-lhes ao ridículo. Quase nenhuma televisão ocidental (exceptuando a RTP África) fala dos progressos de Moçambique. Aliás, só falam de Moçambique quando acontecem tragédias de grandes proporções. É um esforço tremendo que essas televisões ocidentais encontram para localizar Moçambique no mapa. Moçambique, para elas, não existe senão no quadro da desgraça.
Ora, perante este desprezo, por que continuam as televisões nacionais a debater continuadamente o ocidente? Digo: o estrangeirismo? A ejaculação de um príncipe ocidental é notícia. O arroto de um futebolista ocidental é notícia. O peido de um político ocidental é notícia. A traição amorosa de um actor de novelas é notícia para abertura de telejornais. É desta forma que querem internacionalizar-se? Pura mediocridade.
A Suazilândia está a armar-se até aos dentes e, quando se transformar numa “Correia do Norte de África”, não tardará em “engolir” o nosso país. Não são de hoje os avisos à navegação. Não há debates sérios sobre a musculatura dos suazis.
A África do Sul está a instalar usinas nucleares não muito distante da nossa cidade capital (Maputo) e em breve sentiremos os efeitos desse armamento. Que debate se fez sobre estes assuntos? Nenhum. A porosidade das nossas fronteiras é um facto real que permite à entrada e instalação de grupos terroristas no nosso país. As televisões não esmiuçam estas situações, preferem despachar repórteres para o estrangeiro para cobrir acontecimentos fúteis onde a agenda principal são as “cervejadas e outros quitutes e acepipes.”
A Vale Moçambique, em Moatize, continua a matar os guardiões dos recursos naturais. Alguma reacção televisiva? Pouca! Outras nem sequer reportam a violação dos direitos humanos, porque estão mais preocupadas em assassinar o carácter das pessoas, ignorando o princípio da presunção da inocência, em troca da audiência. Incita-se à violência. Basta um olhar mais acurado para as grelhas de programas, o leitor constatará que os assuntos socioculturais do país foram substituídos por novelas, novelas e mais novelas estrangeiras. Em troca, as televisões do estrangeiro brindam os seus telespectadores com notícias ou imagens ruins de Moçambique (crianças com barrigas inchadas, etc.) Somos os diabos do mundo. A neocolonização é uma realidade que me preocupa. Falta aqui a figura de provedor do telespectador para acabar com essas brincadeiras.
Zicomo e um abraço nhúngue ao Ulisses.
Nota: Na semana passada recebi uma dezena de e-mails a propósito do artigo sobre o talento da Governadora de Gaza. Comoveu-me pela positiva a unanimidade de comentários. Todos estão de acordo que Gaza está na rota do desenvolvimento. Contudo, sinto-me na obrigação de reparar um erro. A Governadora Stella não é a única dirigente que não lê discursos, a Ministra Vitória Diogo, que já anda neste mundo da política há muitos anos, também possui esses dotes. Ambas estão a fazer a diferença em prol do desenvolvimento do país. Há, de facto, oásis no governo do Presidente Nyusi.
WAMPHULA FAX – 24.07.2017