Canal de Opinião por (?)
Camarada Benjamim Tomás, vem aqui à cidade da Beira, nos próximos dias, o presidente Nyusi. Espero que consigas falar-lhe, em recurso gracioso, para que não sejas o Julius Malema moçambicano. Ou o novo Uria Simango do Partido. Não sei se já antes tentaste recorrer junto dele, mas era óptimo, ganhavas tu e o teu partido. Por certo, a tua suspensão é indício do que vai acontecendo entre nós, onde os mais poderosos podem mais, e os menos poderosos podem menos.
Já viste, aos atuneiros que orquestraram, protagonizaram a maior fraude financeira de que há memória na história do nosso jovem país, nada lhes acontece.
Mesmo me parece que nunca lhes acontecerá a ponta de um corno.
Camarada Benjamim Tomás, não pretendo comparar-te ao Malema, mas o teu caso parece semelhante ao dele, a quem o ANC acusou de denegrir colegas, depois expulsou-o.
Quando pensavas que tens direito de exprimir a tua opinião, de concordar ou discordar com a forma como o país é gerido desde o topo à base, eis que o fundamento da tua suspensão baseia-se em falares muito. Assim o fizeram ao Malema, daí eu não veja nem preveja um fim diferente para ti, que não seja te expulsarem.
Se é que estás pensando, não caias na lógica de que a Constituição da República incentiva a liberdade de expressão. Isso também dizem os estatutos do teu partido, onde eras aquele membro que estava em todas. Lembro-me quando andavas de instituição a instituição a recrutar membros para o BATUQUE E A MAÇAROCA. E quiseste-me atrair para a tua rede, mas recusei, porque, a mim, os partidos não me dizem nada. Tu eras um miúdo por aquelas. Eu pensei cá para os meus botões como se atrevia um pivete, pois, além de miúdo, eras magro e não tinhas a estrutura física que hoje apresentas.
Usavas uma raia no cabelo curto. Daquelas que soíam usar o Mandela ou Martin Luther King.
Foste muito ousado por tentares arrastar-me para as fileiras do teu partido. E de forma reiterada lá mantiveste a persistência. Mas como te expliquei, não o cedi, porque sou filho de um reaccionário, a quem a tua Frelimo matou. Vê lá a minha tolerância, depois de fracassares no intento de me arrastares para o teu clube, ainda nos tornámos amigos.
Tu na tua FRELO, e eu no jornalismo independente. Cada um respeitando a opção do outro.
E porquê esse intróito todo? Naquele dia em que me convidaste a servir de moderador no lançamento do teu Movimento de Intervenção Social, fiquei com uma pulga na orelha. Dizem os que te ouviram discursar que a tua suspensão foi mais por razões políticas do que disciplinares. Pobre de ti, que devias saber antes mesmo que nunca criticar aqueles que roubam e assediam mulheres no partido.
Pobre de ti que procuraste a pureza no meio de impuros. Os estatutos e directivas só servem para enganar as formigas, com a etiqueta sal nas hostes do partido, quando por dentro perfilam corruptos com apetência de tomar todo o favo de mel do Orçamento do Estado.
O teu pecado é teres ousado criticar uma sequência de situações no mesmo eco e diapasão da oposição, pois as práticas que enumeraste tornaram-se normais no teu partido.
Obviamente, alguns me lerão sem deixar de considerar haver um exagero quando afirmo que corres o risco de seres o Julius Malema moçambicano.
Não errei no prognóstico, creio eu, porque és o primeiro jovem no seio da Frelimo que se insurge de forma aberta e energética contra os males que devassam o teu partido, que pretendiam puro.
Camarada Benjamim, tu desafiaste a política do partido, porque a corrupção e o gangsterismo são assuntos endémicos que acabarão quando o partido morrer de velho e podre, com as suas infraestruturas que ruirão sobre a cabeça de um punhado daqueles que continuarão a defendê-lo, como ideologia.
Camarada Benjamim, espero que consigas fazer o recurso gracioso junto do Nyusi. Ou de contrário talvez a falta de um fórum que te dê ouvidos venha a levar-te ao mesmo fim que teve o Malema: fundar um partido. Não é isso que te aconselharia a fazer, se bem que o ponto crítico da juventude FRELA é que não alinha por ideias de pureza. A não ser que tenhas um mecanismo mágico para arrastá-los. De contrário, podes sobrar sozinho. Ou com alguns que te dão palmadinhas nas costas, nas redes sociais, de cabeças emersas na areia como as avestruzes.
Vá, manda uma mensagem ao Chipande. Pede-lhe para interceder junto de Nyusi, por forma a que este te receba nesta visita que realizará à Beira, pois, se os órgãos superiores do partido te fizerem ouvidos moucos, talvez devas dedicar-te só aos negócios, sem atacar a política máxima do partido que prevê implicitamente a promoção da ladroagem, entre as suas prioridades da sua agenda 20/20.
Talvez discordes de mim. E, se discordas, pensa muito, antes de começar uma vida nova.
Não desejava ver-te amargurado como da última vez que te vi o rosto no jornal.
CANLMOZ – 31.07.2017