A sombra de Guebuza e o Congresso da Frelimo à porta
Publicamente afrontado e até ridicularizado pelos grupos de choque ligados a Armando Guebuza, Filipe Nyusi está cada vez mais ciente de dias difíceis antes e durante o Congresso. Na sua comunicação aos membros do Comité Central, Nyusi usou o ataque como arma de defesa, deixando transparecer o ambiente desconfortável que se vive no partido que governa desde a Independência do país.
Aos que o têm afrontado, Nyusi chamou “inimigos de Moçambique e da Frelimo”. Alertou o seu partido para estar atento a esses.
Há dias, criou-se perplexidade quando, num debate televisivo, o partido Frelimo teve dois representantes, nomeadamente Caifadine Manasse, que defendia Nyusi, e Alexandre Chivale, um dos mais destacados defensores de Guebuza, que atacava Nyusi, colocando em causa a governação. Foi a primeira vez, na história recente dos debates televisivos, que a Frelimo teve dois membros a contrariarem-se. Sabe-se que Alexandre Chivale é do esquadrão que defende Guebuza e as dívidas, um embaraço em que Nyusi está metido, mas tenta passar a mensagem de que não sabia de nada. Tal situação tem estado a criar alguma clivagem.
Na quinta-feira, Nyusi, de forma indirecta, abordou as desinteligências internas e atacou os seus críticos. “Os vários adversários do país e da Frelimo tentarão explorar no máximo estes momentos em que discutimos a vida da Frelimo e do país para tentar fragilizar-nos nos próximos dias. Estejamos atentos e preparados, pois este não é problema maior”, disse.
Filipe Nyusi acrescentou que tais inimigos já fizeram o mesmo no passado. “Tentarão fazer desta vez com recurso a novas tácticas incluindo a instigação à desunião interna. Por isso deveremos redobrar a nossa vigilância individual e colectiva a novas manifestações de instigação a desunião interna, para que a Frelimo prevaleça forte”, disse, atacando o que de designou como “mau competir”.
Sobre o diálogo para a paz
Sobre a paz, Nyusi repetiu várias vezes a necessidade do diálogo, tendo dito: “Continuaremos a dialogar, considerando esta como a forma mais acertada de manter uma posição pragmática sobre o futuro deste país”.
Nyusi apelou a toda a sociedade e todas as confissões religiosas para aderirem à busca de soluções para a paz, sem que esperem pelo convite formal, porque, na sua opinião, o que se pretende é encurtar o período de espera pela paz, o que se pretende é a paz e não a projecção de quem a construiu. De resto, é uma tentativa de reconciliação com a Igreja Católica, depois de ataques de que esta tem sido alvo, lançados pelos grupos de choque da Frelimo, a propósito das Cartas Pastorais que criticam a lentidão na paz e falta de responsabilização, na questão da dívida oculta.
Ainda sobre a paz, Nyusi disse: “Temos a consciência de que negociar não é tarefa fácil e não tem sido. Dialogar é moralmente arriscado, mas acreditamos que é a coisa certa que temos estado a fazer”.
CANALMOZ – 28.07.2017