Canal de Opinião por Adelino Timóteo
Camarada Presidente.
Não faz muitos dias que lhe ouvi fazer balanço de dois ano: e meio do seu desempenho que trouxe o eco pomposo do regresso do país. que pressupus eu, andara no fundo do poço, na banca rota. Foi algo inovador ouvi-lo dizer que o país já está nos carris, deixando de ser aquele comboio que andava hesitante na estrada asfaltada.
Sendo do domínio publico de que está em relativo exercício de poder, o seu discurso é marcado pelo triunfalismo, na esteira do qual o Governador do Banco afirmou já que, como país, ultrapassamos a zona de risco do porto de vista económico. Foi como uma lufada de ar fresco nos pulmões.
Camarada Presidente, o seu triunfalismo peca por anunciar realizações que ancoram no elevado grau de hesitação com que dirige o país. Sabemos não tem reflexo no dia-a-dia dos cidadãos. Uma mão cheia de nada e outra cheia de coisa nenhuma, sendo de anotar a situação candente da derrapagem do metical em relação ao dólar e outras moedas estrangeiras. Daí, o seu discurso não deixa de ser um mero exercício de retórica para iludir os parceiros da EFEEMEI e quejandos. É de lamentar que o gabinete do Presidente tenha quadros competentes para produzir discursos mal amassados, como esse em que se reflecte alguma discordância gramatical, contradição exultante de que parte das realizações são personificadas na sua pessoa e as outras no colectivo do Governo.
O camarada Presidente iludiu-se no seu discurso ao afirmar que estamos no fundo do poço em resultado da conjuntura económica global. Qual conjuntura global, se sempre que nos conhecemos como país sempre estivemos em crise e precisamos de uma injecção de mais de cinquenta por certo do Orçamento Geral do Estado? Perdeu uma soberana oportunidade para dizer que realmente já tomou posse depois de dois anos e meio à deriva do mar e do continente. No lugar de espalhar paliativos sobre o combate “vigoroso" a corrupção, como aquela em que ao peixe miúdo do ex-rninistro da Justiça se lhe aplicou a pena de dois anos, esperávamos que. nesse discurso, recomendasse acções enérgicas contra os peixes graúdos, aqueles que levaram o país ao fundo do poço, onde continua imerso, apesar do seu discurso triunfalista. considerando que o recém-regressado país não conseguiu honrar ontem com as suas obrigações financeiras junto dos credores das dívidas escondidas.
Camarada Presidente, o país não estará nunca de volta aos carris se o antigo presidente e a sua escumalha de meliantes não forem levados às garras da Justiça. Moçambique não estará de volta se não consegue antes honrar os seus compromissos financeiros junto dos credores. Moçambique não estará de volta se o Camarada Presidente não consegue ler os sinais necessários para a recuperação da confiança junto dos parceiros multilaterais de apoio.
Moçambique não estará de volta sem a moeda de troca, em que os culpados sejam exemplarmente condenados. É um caso de responsabilidade civil sobre os mentores da fraude o que está em causa, sem o qual, por mais que afinemos pelo verbo fácil e rápido, estaremos longe de regressar.
Numa palavra: os ladrões que roubaram a Pátria devem ir para a cadeia! É pois o que se pressupõe um país de volta. Um país de volta com a sua dignidade, não como um indigente e esfarrapado, com buracos por toda a sua roupa e calçado. Um país de volta pressupõe as instituições democráticas a exercerem as funções de Estado, com isenção e independência. Que não tenhamos uma PGR titubeante, a fazer justiça apenas sobre um punhado de pilha-viagens à Meca. Um país de vota é aquele a que se permite á devolução de toda uma normalidade, que persiste em nos faltar: isenção e imparcialidade. Que ninguém está acima da lei.
Desafio já a PGR a chamar o mentor das dívidas ocultas a responder em processo criminal, se bem que ter um país de volta significa recuperar o dinheiro desencaminhado, cujas pistas a Kroll parece não ter conseguido desvendar. (Adelino Timóteo)
CANALMOZ – 20.07.2017