Passam hoje, precisamente, 30 anos de um dos mais hediondos massacres do mundo. Não apenas pelo elevado número de vítimas (mais de 350 civis), mas sobretudo pelo seu carácter brutal e sórdido, perpetrado por seres estranhos e possessos! Moçambique e os moçambicanos despidos da sua dignidade. A humanidade insultada, cabisbaixa.
Tomás Vieira Mário
Menos de um ano antes tinha morrido Samora Machel e, com ele, mais de trinta pessoas, incluindo ministros, assessores e outros oficiais do Estado. Mais do que a trágica morte de um Chefe de Estado, era o culminar de uma prolongada e enfurecida ameaça à manutenção de Moçambique enquanto Estado soberano. A autoestima dos moçambicanos no seu nível mais baixo…desde a humilhação de Coolela!
Quero, no presente texto, recordar alguns episódios em torno do 18 de Julho de 1987, dividindo o texto em três partes, a saber: o impacto da notícia do massacre em Lisboa; a reação de Afonso Dhlakama numa entrevista que me concedeu em Setembro de 1993 e a relação do povo de Homoine com a memória do massacre.
Parte I: as perguntas que não pude responder
A notícia do massacre de Homoíne começa a circular na imprensa portuguesa na noite do dia 19 de Julho. Na manhã do dia 21 ela vai fazer manchete em todos os principais jornais. A imagem de Moçambique nos seus períodos mais baixos de sempre. “Os moçambicanos estão chacinando-se entre si”, assim se pode resumir o tom geral das notícias. Entre aqueles jornais associados à ressaca colonial e ressabiados com a independência de Moçambique, há, entrelinhas, um quê de escárnio: lembro-me, vagamente, de um título que dizia, mais ou menos, isto: “da fome à carnificina- eis os frutos da dita independência de Moçambique”. Enquanto correspondente da AIM na capital portuguesa, recebo de todos os cantos do mundo, este tipo de perguntas: “ afinal o que se passa convosco, moçambicanos?!” “ Que anátemas vos foram atirados pelos deuses?” “Que males tão graves e insanáveis ter-se-ão infringido, uns aos outros, a ponto de se massacrarem tão cruelmente?” Destas perguntas entendia-se que para o mundo, já pouco importava querer encontrar “culpados” e “inocentes” : simplesmente, os moçambicanos estavam a matar- -se uns aos outros, sem dó nem piedade!
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