O pai da nação arco-íris sul-africana, Nelson Mandela, é citado como tendo afirmado que uma pessoa não nasce com ódio contra outra pessoa, mas sim é educada ou ensinada a odiar.
No seu famoso discurso proferido no final do julgamento de Rivónia, no qual foi condenado à prisão perpétua pelo regime da minoria branca do apartheid, Nelson Mandela disse que sempre lutou contra a dominação branca e contra a dominação negra.
Para ele, este era um ideal pelo qual estava preparado a morrer caso fosse necessário. Após 27 anos de prisão, Nelson Mandela foi libertado. Negociou o processo de transição para a democracia. Até à sua morte não teve rancor com brancos. A sua secretária foi branca, bóer.
Eu nasci e cresci em Moçambique como africano originário ou negro no tempo da dominação colonial portuguesa.
Os meus pais, sobretudo a minha mãe, tinham excesso de respeito por pessoas de raça branca, mas detestavam o trabalho forçado da cultura de algodão, castigo corporal com palmatória e outros males perpetrados por colonialistas brancos, mas nunca me ensinaram a odiá-los.
Logo depois da independência, fui educado para saber que brancos e negros ou pessoas de outras cores da pele são iguais.
Fui ensinado que não havia tribo nem etnia. Todos éramos moçambicanos.
Os governos de Samora Machel tinham pessoas de todas as cores da pele. Consta que numa visita de estado a um país europeu, Samora Machel terá mostrado a jornalistas locais na presença do chefe de Estado anfitrião aquilo que chamou de arma secreta de Moçambique – ministros e vice-ministros moçambicanos de todas as cores da pele. Não havia moçambicanos goeses e outros puros.
Entretanto, nos últimos anos, a partir da nação arco-íris tenho acompanhado sinais de manifestação de racismo em Moçambique. Semana passada recebi uma mensagem através da plataforma WhatsApp a chamar nomes ao jornalista Fernando Lima e ao académico João Mosca.
O autor da mensagem acusa-os de conspiração para prolongar a guerra entre o Governo e a Renamo.
Acho que há um grande risco de o país voltar a ter fissuras nas relações sócio-raciais que marcaram o segundo e último mandato de Armando Emílio Guebuza, quando João Mosca, Jorge Rebelo, Marcelino dos Santos e outros criticavam aquilo que consideravam arrogância de governação que acabou tramando o país com dívidas ocultas, contrariando o espírito de Samora Machel.
Na África do Sul, as relações brancos-negros estão em estado de ebulição mais crítico no segundo e último mandato de Jacob Gedleyihlekisa Zuma, contrariando o espírito da nação arco-íris de Nelson Mandela.
THANGANI WA TIYANI,
CORRESPONDENTE NA ÁFRICA DO SUL
CM - 26.07.2017