Líder do maior partido da oposição angolana – a UNITA, Samakuva concorre pela segunda vez à Presidência. O candidato também promete um basta ao "cabritismo", que segundo ele foi implantando pelo Governo do MPLA.
Se for eleito Presidente de Angola nas eleições de 23 agosto, Isaías Henriques Ngola Samakuva promete, entre outras coisas, oferecer educação gratuita até o ensino secundário e saúde de qualidade para os angolanos. Mas quem é o candidato da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), que concorre pela segunda vez às eleições gerais no país?
Samakuva foi eleito presidente da UNITA em 2003, depois da morte em combate do líder-fundador do partido, em 2002, Jonas Malheiro Savimbi. Em 2007, foi reeleito numa disputa com o atual presidente da CASA-CE, Abel Epalanga Chivukuvuku.
Em 2011, Isaías Smakuva voltou a ser reeleito presidente do maior partido da oposição angolana numa eleição considerada de encenação pela opinião pública e por diversos analistas por ter tido como adversário José Pedro Kachiungo, até então, um ilustre desconhecido da política nacional e entre os próprios militantes do partido.
Prova de liderança
A primeira prova da sua liderança nas eleições angolanas foi nas legislativas de 2008, quando viu o número de deputados do seu partido a cair drasticamente de 70 para 16 na bancada parlamentar. Foi, particularmente, um duro golpe para Isaías Samakuva, que foi obrigado a colocar o seu cargo à disposição. Entretanto, a pretensão de Samakuva foi rejeitada pela cúpula do maior partido da oposição, que atribuiu o desastre eleitoral à fraude orquestrada pelo regime de José Eduardo dos Santos.
Foi adversário direto de José Eduardo dos Santos nas eleições gerais de 2012. Ganhou fôlego ao duplicar o numero de deputados, mas ainda assim sem fazer frente ao Movimento pela Libertação de Angola (MPLA), o partido no poder desde a independência do país em 1975.
Nas eleições gerais de 23 de agosto, as quartas no país desde a instalação do multipardismo, em 1991, Isaías Samakuva, aos 71 anos, tem João Lourenço como novo adversário do MPLA na corrida à Cidade Alta, mas o líder da UNITA diz que o seu adversário é a ruptura de todo sistema.
"O que nos queremos é a mudança. Mas quando estamos a falar da mudança, não estamos a falar apenas de querer ver o senhor José Eduardo dos Santos ir descansar. Quem dirigiu o país há 42 anos e não consegue sequer dar-nos água potável. Este ainda vai ser escolhido outra vez?", disse o candidato da UNITA em discurso.
Mais investimentos na educação
Para convencer o eleitorado da sua postura transparente, o líder da UNITA fez a declaração dos seus bens, da sua esposa e dos filhos. Entre os imóveis arrolados na declaração está um terreno no Benfica, em Luanda. Não possui interesses em nenhuma sociedade comercial e todos os seus rendimentos mensais vêm exclusivamente da sua reforma como brigadeiro, como presidente da UNITA e enquanto membro do Conselho da Republica.
O candidato à Cidade Alta do maior partido na oposição, afirma que com o seu Governo os quadros nacionais poderão competir de igual para igual com os quadros estrangeiros. Também afirma que a educação é um setor estratégico para a segurança do país.
"Não se pode perceber que quando estamos a discutir o Orçamento Geral de Estado vemos mais dinheiro para segurança e defesa e menos para educação. O nosso conceito sobre a segurança é que se o cidadão está bem, estudou bem, teve uma educação de qualidade, ele encontra emprego e está bem na sua comunidade. A segurança esta em certa medida garantida", considera.
Basta na corrupção e no "cabritismo"
Brigadeiro na reserva, Isaías Samakuva licenciou-se em Relações Internacionais. Casado com Albertina Satuala Samakuva e é pai de cinco filhos, ele exerceu várias funções na estrutura partidária, como a de representante da UNITA no Reino Unido, na África do Sul, e, mais tarde, delegado na União Europeia.
Se for vencedor das eleições gerais de 23 de agosto, o líder da UNITA promete ainda dar um basta à corrupção, pondo um fim ao que chama de "cabritismo".
"Porque se o enfermeiro ganha mal, o medico ganha mal, e ele tem família em casa para tratar, o que ele vai fazer? Vai pedir gasosa. Porque aqui também no nosso país criou-se o chamado 'cabritismo'. Ali onde você trabalha é onde você come. Temos de acabar com o cabritismo".
"E vocês sabem o que é cabritismo?", continua Samakuva durante discurso, "lá, na aldeia, para se dar de comer o cabrito ninguém vai pastar as cabras. À cabra e ao cabrito amarra-se numa árvore e eles ficam a comer o que está em volta", explica.
Depois de 23 de agosto, ganhando ou não as eleições gerais, Isaías Samakuva já comunicou publicamente que abandonará a liderança do seu partido. Resta agora saber se irá abandonar a vida política se perder as eleições.
DW – 28.07.2017