Valor da recapitalização: 8,170 bilhões de Meticais
Durante pouco mais de uma hora, na tarde de hoje, realizou-se em Maputo a Assembleia Geral de accionistas do Mozabanco, intervencionado pelo Banco de Moçambique o ano passado em virtude de uma profunda crise de liquidez. A agenda era única: aumento de capitais. Isso foi aprovado por consenso. Também não havia outra saída. A partir de hoje, os accionistas, a Moçambique Capitais (51%) e o Novo Banco português (mais o empresário moçambicano António Almeida Matos, com uma fracção mínima), tem 23 dias para apresentarem ao Banco de Moçambique sua disponibilidade para injectar dinheiro novo no banco.
Quanto isso acontecer (se acontecer), deverão também apresentar garantias bancárias, uma proposta de órgãos sociais e um business plan detalhando sobre como pensam dar a volta à crise que afectou drasticamente aquela que era uma notável proposta de banco de retalho de capitais maioritariamente moçambicanos.
Depois disso, o calendário prevê mais dois meses para que eles realizem, de facto, a subscrição, período no qual o Banco de Moçambique estará também no terreno sondando eventuais interessados. Trata-se de garantir a efectivação de um Plano B, caso a Moçambique Capitais e o Novo Banco não satisfaçam as exigências. É mesmo provável que as duas entidades optem por diluir sua participação no Moza. De acordo com fontes credíveis, o buraco apurado por uma auditoria da KPMG, com cerca de 300 páginas, aponta para 8,170 bilhões de Meticais. Aqui também se contabilizam os poucos mais de 6 bilhões de Meticais que o Banco de Moçambique injectou no Moza em Novembro para assegurar o funcionamento do banco.
A fatia de leão cabe a operações de crédito feitas pelo banco envolvendo o sector empresarial do Estado, nomeadamente 30 milhões de USD para a Ematum e a Pro-indicus, e cerca de 60 milhões para a LAM, Petromoc, EDM, Aeroportos de Moçambique e Maputo Sul. Estas operações tiveram garantias soberanas que hoje são classificadas, nos quadrantes internacionais, como “lixo”.
O relatório da KPMG aponta que esta foi a principal fonte da crise de liquidez do Moza Banco. As operações tiveram lugar entre 2014 e 2015 mas o alerta começou a tocar quando o Governo se manifestou incapaz de honrar o reembolso parcelar do crédito da Ematum, levando-o a renegociar com credores internacionais. E no ano passado, o Moza sofreu um abalo tremendo. Com as praças já ao dispor de informação sobre uma provável crise, o banco foi confrontado com uma fuga massiva de depósitos na ordem dos 4.9 bilhões de Meticais. Parte considerável deste valor pertencia ao INSS, que decidiu transferir seus activos do Moza para o Nosso Banco, agora em processo de liquidação, numa operação eventualmente decidida politicamente, dado a natureza do banco agora com portas fechadas.
Nos corredores financeiros moçambicanos há quem questione o racional dos empréstimos às empresas do Estado, algumas declaradamente deficitárias e com dívidas acumuladas noutros bancos. Para além de critérios de gestão, há também uma dimensão calamitosa de custos administrativos. O Moza chegou a deter uma dependência que custava 1 milhão de USD/mês. E a renovação da marca, numa gigantesca operação de marketing, foi feita por empresas ligadas ao filho de um dos principais gestores do banco. Por outro lado, o Moza tinha projectado construir uma sede própria de 25 andares em frente ao Hotel Polana.
Mas há mais…a sala de mercados. O Moza perdeu cerca de 1,8 bilhões de Meticais em operações cambiais com crédito de juros a larga escala. A sala era gerida por funcionários portugueses representando o Novo Banco. Esse valor também consta do prejuízo do Moza, havendo mesmo suspeitas de gestão danosa.
A situação não é animadora. E muitas interrogações se colocam: quem estará interessado em investir no Moza na actual conjuntura, numa estrutura de certo modo pesada e que continuará a perder dinheiro durante mais alguns anos?
A intervenção do banco central serviu para acalmar as águas no Moza mas, no seio específico da Moçambique Capitais, elas continuam turbulentas. Os accionistas aguardam o desfecho com muita expectativa. Qualquer que for o cenário da recapitalização ainda não é certo que a Moçambique Capitais seja representada na futura situação pela mesma equipa de gestores. A Moçambique Capitais tem cerca de 400 accionistas. Entre eles constam as figuras de Carlos Neves, Zaid Aly, Sabir Omar, Mahamud Charania, Antonio Branco e Salimo Abdula.
Uma questão final: até que ponto vale a pena abrir banco com um modelo de negócios assente em vantagens decorrente de conexões políticas?
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