Quando em Setembro do ano passado, Filipe Nyusi nomeou (imposição?) Rogério Zandamela para o cargo de Governador do Banco de Moçambique (BM), fui um dos primeiros a dar a conhecer a notícia. Como também fui um dos primeiros a escrever, aqui no meu mural, que Ernesto Gove estava em Miami numa wella com a sua família, alheio ao drama das dívidas ocultas.
Efectivamente, pouco depois de ter sido empossado, Rogério Zandamela tomou uma serie de medidas e parecia que era chegada a hora de o BM entrar nos carris. Eu até pensei que fosse um santo. Cheguei até a julgar que muito provavelmente teve a bênção do Papa para assumir as suas tarefas no Banco Central. Enganou não só a mim, mas a muitos. Até a sapataria “Savana” chegou a apelidá-lo de Xerife. Afinal estava a ganhar tempo para mostrar ao que veio…
Um dos maiores desafios de Zandamela quando assumiu o cargo era de travar a inflação galopante e depreciação contínua do metical face as principais moedas internacionais, tais como o dólar, euro, libra e o rand. Há razoabilidade para dizermos que pelo menos tentou. A esta altura provavelmente o dólar estaria a 100 meticais.
Contudo, o Governador do Banco de Moçambique precipitou-se quando veio ao terreiro anunciar o fim da crise e disse que a política monetária está a ser conduzida com normalidade. “Já não estamos a gerir a crise“, estas foram as suas palavras.
Esses cálculos todos foram para ludibriar o povo. A mesa de muitos moçambicanos continua vazia. Os mukheristas estão desempregados. As empresas continuam a fechar. Os camaradas, esses, continuam a engordar…
E foi o mesmo Zandamela que, estando em Portugal, concretamente num evento que decorria em Cascais, disse que a promiscuidade entre finanças, empresários e políticos está no cerne do sistema de funcionamento de Moçambique.
Disse mais: que o problema não era o dinheiro, mas a mentalidade. Segundo ele, para operar numa determinada área, o ambiente empresarial não favorece o negócio nem o crescimento, a não ser que o empresário esteja ligado à realidade política do momento.
Hoje está aqui o “santo” de Zandamela igual a todos os que criticava. Sabe ser árbitro e jogador simultaneamente. Os golos sempre entram na baliza do adversário. Apita os penaltes a seu favor sempre que lhe der na gana.
Por estes dias, a Comissão Central de Ética Pública (CCEP) veio a público dizer que o Banco de Moçambique violou a Lei de Probidade Pública (LPP) ao adjudicar o Moza Banco ao fundo de pensões do Banco Central, segundo uma deliberação divulgada há dias.
Na referida deliberação, a CCEP acusa directamente o Governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, e a antiga responsável pela área da supervisão, Joana Matsombe, de terem infringido a LPP no processo que culminou com a entrega do Moza Banco à Kuhanha, entidade que gere o fundo de pensões do Banco Central.
Na mesma decisão, aquela entidade também imputa responsabilidades ao actual Presidente do Conselho de Administração do Moza Banco, João Figueiredo, que à data da adjudicação assumia a função interinamente.
"Considera-se existirem relações patrimoniais passíveis de criar conflitos de interesses quando o servidor público seja titular ou representante de outra pessoa em participações sociais ou acções em qualquer sociedade comercial, civil ou cooperativa que tenha interesse numa decisão, negócio ou qualquer outra relação de natureza patrimonial com a entidade a que pertence ou que tenha interesse na decisão a tomar", lê-se na deliberação.
O Governador do Banco de Moçambique entregou o Moza Banco à Kuhanha onde ele mesmo é PCA. Ou seja, Rogério Zandamela fez negócio consigo mesmo. Agora pergunto: não é este senhor que falava de promiscuidade, influência política e que tais? E agora quem é que é promíscuo?
Zandamela quando foi nomeado até criticou com os colegas o facto de Ernesto Gove ter gasto milhões e milhões de dólares a construir aquele edifício que é hoje a sede do Banco de Moçambique. Mais no dia da inauguração deu elogios a Gove por ter iniciativa de pensar fazer aqueles edifícios.
Hoje, sinceramente, não sei quem é que é pior. Só sei que em Moçambique até o absurdo é normal. O país funciona às avessas. É um sítio que se chama Moçapandza. Só existem estupradores que nem usam vaselina. Enfiam directamente ao povo. Não há preliminares… directo ao assunto!
Nini Satar
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