Nos anos 40 do século passado vivia a minha família em Mecuburi (Nampula).
Tínhamos em casa um cozinheiro que, com toda a liberdade e confiança, tinha à sua guarda a dispensa sempre aberta.
A história é real.
Aí uma vez por ano ele chegava-se a meu Pai e pedia que lhe “desse porrada, pois cabeça começava a variar”. Claro que não era hábito o meu Pai bater em qualquer empregado. Ainda me lembro de meu Pai lhe dizer: “Mas tu não fizeste nada de mal!” Ele insistia que “cabeça estava a variar”.
Com o tempo já sabíamos o que iria acontecer: começavam a desaparecer artigos da dispensa,e já o tínhamos em observação. Era óleo, arroz, açúcar, etc que começavam a desaparecer.
Meu Pai chamava-o e perguntava-lhe onde estavam os artigos desaparecidos.
A resposta invariável era: “Eu levei. Eu avisei patrão.”
Mas porquê –perguntava meu Pai.
“É que mão quando encontra, não deixa” – respondia ele.
Pois é isto o que se passa hoje em muitos serviços da Administração Pública moçambicana, de cima a abaixo:
“É que mão quando encontra, não deixa”
A grande diferença era que o nosso cozinheiro ainda tinha noção do “errado” o que hoje parece não existir, nem vergonha.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE