Canal de Opinião: por Noé Nhatumbo
Afinal os “Namburetes” da Energia têm o calor das “costas quentes”...
De facto, de outro modo não seria possível. Em qualquer país minimamente democrático não há ministro que possa fugir de responder as perguntas da imprensa, cidadãos ou parlamentares como o ministro de Energia de Moçambique se especializou.
Quando nos dias de ontem, em pleno reinado do partido único, a palavra do chefe do partido era lei, o secretário do grupo dinamizador podia decidir o futuro de seu vizinho com uma simples informação anónima ou não, os moçambicanos pagaram com sangue o facto de alguns terem a coragem de pensar e manifestar suas diferenças. E quando um ministro que aufere um chorudo salário acompanhado de mordomias consideráveis se nega a responder aos que afinal lhe garantem tais regalias, estamos em presença de algo estranho. Os ministros, governadores, directores nacionais e demais titulares de cargos públicos, agem de acordo com determinadas orientações ou instruções. Se não há receio em utilizar abusivamente os meios do Estado para a realização de actividades de campanha eleitoral do partido no poder é porque existe segurança de que a lei que rege tal assunto jamais será aplicada contra os infractores.
Quando após o advento do pluralismo partidário, muitos de nós começamos a pensar que a normalidade governativa havia chegado, não tardou que alguns fenómenos se encarregassem de mostrar que não era tão bem assim como pensávamos. Aquelas manifestações de pluralismo permitidas e tudo o que de democracia formal se procurou edificar no país não passava de uma fachada para convencer a opinião pública internacional, a comunidade doadora e apaziguar esquerdistas ou socialistas de última hora.
Como não devem estar arrependidos os apoiantes dos ditadores de ontem, aspirantes a ditadores de hoje que quando alcançaram o poder enveredaram por vias bem distantes dos socialismos teóricos que muitos estudantes da Sorbonne sonhavam?
O moçambicano real e não aquele produto artificial de teorias jamais provadas em lado algum, na generalidade já experimentou o que significa ser governado por gente que tem a retórica e demagogia a frente. Muito já disseram e não se fartam de dizer. Mas quando se lhes pergunta quais são os contornos reais da reversão da Hidroeléctrica de Cahora Bassa, dizem que é segredo. Quando a pergunta é sobre as contrapartidas das concessões financeiras das areias pesadas de Moma, nem os deputados sabem. Quando se fala do carvão de Tete tudo que sejam contrapartidas financeiras a favor de Moçambique é segredo. A exploração de camarão pelo Japão e Espanha tem contrapartidas que os moçambicanos jamais tiveram a oportunidade de conhecer. As madeiras que os chineses exportam são-no ao abrigo de algum acordo, mas como em tudo o que envolva dinheiro os moçambicanos não têm o direito efectivo de saber. E isto só acontece onde não existe democracia e não se cumpre com o que está escrito na Constituição da República, como a nossa.
Se amanhã a república se transformar em uma ditadura de uma clique pertencente ao partido no poder, importa que não nos esqueçamos que ensaios foram feitos, testes realizados e decisões tomadas atempadamente até a sua concretização.
Tudo aquilo que de decisão política foi tomado ao longo dos últimos cinco anos permite concluir que os governantes que temos não estão em nada interessados que os problemas de seus concidadãos se resolvam. O que efectivamente conta e é está no topo da sua agenda é a realização e concretização dos interesses económicos e financeiros dos titulares dos cargos públicos. O partido é uma plataforma para que a sua fina-flor concretize projectos que só o tráfico de influências ao nível do governo pode garantir ou tornar possível. Mesmo a aparente existência de alas no partido no poder, não reflecte mais do que a existência de interesses conflituosos entre gente pertencente a uma mesma nomenclatura. Não há clivagens de natureza ideológica. Os ditos guardiães do marxismo-leninismo que nunca chegou a vegetar em Moçambique transformaram-se em ricos reformados, com casas de luxo, pensões ou salários diversos, estrategicamente colocados à margem de tudo que seja política activa. Quando por vezes aparecem dizem isto ou aquilo são afirmações de moribundos que já não contam para os que efectivamente mandam. No meio de tanta turbulência estes dinossauros têm a plena consciência de que já não podem parar ou travar a avidez de seus “antigos camaradas”. Já não há “camaradas”. Esta é a realidade. Reina o capital selvagem e agora ganha quem finta mais.
O tráfico de influências, a capacidade de agradar as chefias, a ausência ou destruição dos últimos resíduos da ética e moral tem mostrado de facto como se pretende agir e como a será a III República...
(Noé Nhatumbo)
CANALMOZ – 22.10.2009