O maulide, uma manifestação cultural tradicional cuja espectaculosidade e emoção assenta no facto dos seus praticantes recorrerem à instrumentos contundentes semelhantes à agulhas compridas com as quais se espetam na região abdominal e da face no acto da dança, está em extinção, sobretudo na Ilha de Moçambique, onde a mesma surgiu há cerca de 82 anos.
A alegada falta de interesse em assumir o legado da cultura local por parte dos jovens na Ilha de Moçambique é um dos factores que precipita o perigo de extinção da dança “maulide”, segundo Joaquim Nazário, chefe da repartição de cultura, juventude e desportos no governo local.
Os artistas que exibiam a dança maulide de forma exímia na Ilha de Moçambique retiraram-se dos palcos forçados pela sua idade avançada e não puderam transmitir os seus conhecimentos aos jovens devido ao aparente desinteresse destes, sendo, igualmente, de lamentar que, nos últimos anos, não houve a renovação dos instrumentos musicais devido a escassez de recursos financeiros para o efeito.
Nazário precisou que, ao nível do seu distrito que é considerado o berço do “maulide”, existe actualmente apenas um grupo cultural daquela manifestação ao invés dos cerca de quarenta que proliferavam há cerca de uma década.
Dançar o “maulide” exige uma preparação específica por parte dos intérpretes. Segundo Nazário, os dançarinos devem ser submetidos previamente a um ritual para que os instrumentos contundentes usados para espetar os respectivos corpos, sobretudo no ventre e nas bochechas, não possam causar danos que culminem na morte
As matérias relacionadas com o ritual são asseguradas por intérpretes do “maulide” com larga experiência naquela manifestação cultural que é exibida apenas por pessoas do sexo masculino.
A túnica e o cofiô, peças usadas pelos praticantes da religião muçulmana, são imprescindíveis para os dançarinos do “maulide”, cuja manifestação cultural confunde-se com a magia.
Entretanto, o governo da Ilha de Moçambique já tem planos para resgatar a referida dança e, de acordo com Nazário, as acções vão consistir na mobilização de fundos para financiar a compra de instrumentos, nomeadamente batuques, bem como a massificação e promoção das actividades culturais ao nível das escolas, potenciando as manifestações tradicionais locais.
Na Ilha de Moçambique, onde o património cultural intangível é uma prioridade das autoridades governamentais locais no que concerne à sua conservação, constata-se o perigo de extinção de outras manifestações tradicionais, segundo Nazário que apontou as danças chacacha, currumbiza, enhupo namahanje, evizia e inzope (caracterizada pelo salto da corda no acto de exibição).
WAMMPHULA FAX – 29.09.2017
NOTA: Lembro-me perfeitamente de assistir a estas cerimónias. Saiba mais em
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-77012007000100003
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE