Arranca, esta manhã, na Escola Central do Partido, na cidade de Matola, o XI Congresso da Frelimo, organização política que dirige os destinos do território moçambicano e do seu povo já lá vão longos 42 anos.
É um partido, cuja história se confunde com a história da nação moçambicana, até porque foi a Frelimo que política e militarmente dirigiu a luta de libertação nacional, que culminou com a proclamação da Independência Nacional, em 1975. E foi, também a Frelimo que, exactamente a 25 de Junho de 1975, proclamou a independência e definiu os parâmetros e mecanismos de governação, com a promessa e compromisso de tudo fazer para, em primeira e ultima instância, assegurar o bem-estar dos moçambicanos.
Quarenta e dois anos se foram. Hoje, muitos moçambicanos que, directa ou indirectamente, ouviram a promessa da epopeia independencialista não têm o mesmo sorriso nos lábios. Se consideram traídos e enganados por aqueles que assumiram o compromisso de defender, em primeira e última instância, o bem-estar dos moçambicanos. Aliás, o sentimento de alguma frustração toma conta, também, daqueles que fundaram e acompanharam todo o percurso da Frelimo e da construção da nação moçambicana. Uns já publicamente apareceram para manifestar o seu desagrado e decepção com o facto de a Frelimo que ajudaram a criar e crescer ter perdido o foco das promessas do 25 de Junho ou simplesmente ter-se deixado tomar, ao longo do tempo, por grupos de interesse que têm como foco a criação do seu bem-estar individual, em detrimento do bem comum.
Esta é uma realidade que, do ponto de vista de discurso oficial, é negada, mas, de forma individual é assumida por muita gente “de dentro” do partido.
Diante disto, oficialmente negando ou aceitando esta realidade, gostaríamos de ver o XI Congresso que hoje se inicia a compreender que o grau de frustração, de revolta, de descontentamento e de penúria acentuada continua a tomar conta da retumbante maioria dos moçambicanos. E esta realidade tem causas objectivamente conhecidas, a começar da improdutividade politicamente orquestrada até à desorganização total e completa do Estado, tudo na perspectiva de assegurar o desvio, o descaminho e roubo de tudo quanto os governantes e gestores públicos pretendam tirar do Estado para ampliar o luxo e ostentação que diariamente somos obrigados a assistir. É que, nos dias que correm, é inegável o luxo exagerado de uns (umbilicalmente ligados ao partido em congresso e à gestão da coisa pública), diante de uma miséria acentuada e sem precedentes de outros, a larga e esmagadora maioria dos moçambicanos. São estas coisas que o congresso devia reflectir profundamente em torno delas…afinal estamos a falar da vida de 27 milhões de moçambicanos, caros camaradas.
Profeta ou não, Samora Machel, primeiro presidente da nação moçambicana independente, já previa e chamava atenção e necessidade de mantermo-nos vigilantes para o facto de haver moçambicanos que quererão virar capitalistas através da exploração de outros moçambicanos. E hoje, Moçambique é negativamente e mundialmente celebrizado por ser o país que mais consegue ampliar o fosso entre os ricos e pobres. Ou seja, ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres. Seria aqui escusado colocar a lista de uns tantos que, diariamente, ampliam os seus impérios empresariais e a sua riqueza individual sem que lhe seja reconhecida a competência, senão o lobbing que tem em esquemas que quase prostituem os negócios públicos. ( [email protected] )
MEDIAFAX – 26.09.2017