Por Capitão Manuel Bernardo Gondola
Propaganda é toda acção que visa difundir nas populações ideias e atitudes favoráveis a determinados objectivos mediante processos adaptados à capacidade receptiva da generalidade da população.
Conforme a anterior definição, podem apontar-se seguintes características típicas da Propaganda:
- O seu fim é prático: com a difusão de ideias pretende-se suscitar um movimento de acção em favor de um objectivo tomemos como exemplo; eleições, colaboração num projecto estatal e…,etc.
- O sujeito receptivo ou passivo da Propaganda é a população. Para formar a opinião ou atrair a vontade das elites usam-se meios: informação pormenorizada, discursos, discussões…
- Os seus processos são os que, pela sua oportunidade e carga emotiva, são os mais aptos para suscitarem adesão geral e rápida.
Você vê, é típico da Propaganda apelar para o sentimento, para os desejos conscientes e inconsciente das populações. Por outro lado, propõe afirmações peremptórias, «slogans». Ou seja, difunde conclusões sem acompanhamento das razões que levaram a elas, a não ser as razões gerais e elementares. Do mesmo modo, põem-se de lado as premissas (estruturação de raciocínio) esclarecedoras uma vez porque seriam realmente inexequíveis (impraticáveis) às populações, e outras porque seria demasiado lenta a reacção. Também pode acontecer, que interessa ocultar as verdadeiras razões porque, se fossem expostas, provocariam reacções contrárias.
Porque, atendendo ao que se disse, você vê, não é de estranhar que os três veículos “clássicos” da transmissão de ideias e sentimentos, que acima atirei: palavra falada, palavra escrita e imagem, adoptem as formas mais elementares. Não à-toa, prefere-se o discurso diante de grandes massas (populações) e o comício à discussão em círculos fechado; a revista ilustrada à de artigos de fundo dos Jornais; os grandes títulos de imprensa à exposição pormenorizada. Manifestações, desfiles, cartazes murais, prospectos (folheto), são meios característicos da acção propagandística.
E…, para não ser chato e (mal educado) as próprias emissões televisivas e radiofónicas hoje adoptam uma forma muito parecida à da publicidade comercial de que a Propaganda difere mais pelo conteúdo do que pelo método. Sem medo de errar, é um facto, que a Propaganda hoje no país é tomada muitas vezes numa acepção pejorativa, não só pelo seu escasso ou nulo valor formativo, mas também pelo uso torpe (desonesto) e abusivo que dela se faz sobretudo em algumas provinciais do Centro e Norte do país e, porque por vezes é posta ao serviço da mentira.
Contudo, já verificou-se, no país que a Propaganda é um instrumento que pode prestar verdadeiro serviço ao bem público. Do mesmo modo, é admitido nos próprios Regimes democráticos. Porquanto, pode ser necessário para se opor a Propagandas contrária à verdade. É especialmente útil para mobilizar a colaboração da população/populações em Empresas estatais urgentes. A meu ver, este é um aspecto muito importante da Democracia, que não se pode de modo algum limitar a promover a intervenção do povo de cinco em cinco anos numas eleições.
Por conseguinte, o que tentei mostrar é que, para que a Propaganda não mereça um «juízo ético» negativo como acontece, requere-se que obedeça as seguintes regras:
- Não deve servir a mentira, nem directamente propalando dados falsos e nem indirectamente interpretando deslealmente os dados verdadeiros.
- Não deve a Propaganda usar-se como meio «exclusivo», mas deve ir acompanhada e seguida de informações pormenorizadas e objectivas e de um esforço para tirar as populações da sua menoridade inicial, conduzindo-as, através de um trabalho de verdadeira educação cívica, para uma colaboração o mais consciente possível.
Infelizmente; isso não vejo acontecer no país.
n/b:
No momento em que vos escrevo esta carta, já são 53 anos do início da luta armada de libertação nacional. Isto não aconteceu por acaso, já que o decurso e o desfecho da Guerra dependeram precisamente da atitude e valentia que os Jovens Soldados do 25 de Setembro tomaram e, do grau de participação nela das amplas massas populares.
O fim vitorioso da Guerra de libertação nacional demonstrou com toda evidência, que o papel decisivo pertenceu sempre ao povo.
25 de Setembro de 1964. VIVA!
Manuel Bernardo Gondola