Ser tolerante no isolamento não é possível. Se você, está sozinho não tem como ser tolerante. Porque ser tolerante é em relação a alguém. E, o que é pior é alguém, que agi, que se manifesta, que pensa, que fala, que se comunica. E, aqui eu puxo a brasa para minha sardinha. Toda tolerância pressupõe comunicação.
Pressupõe mensagem. Porque eu tenho que discordar e, então é fundamental que tenha havido mensagem da parte do outro. Se fosse possível reflectirmos sobre uma pessoa, que não comunica, acto com o qual eu não concordo. Porque mesmo silencioso, você comunica, pelos seus gestos, pela sua indumentária, e…, etc,etc.
O facto é, se houvesse alguém, que não comunica, não haveria como exercitar em relação a ele nenhum tipo de tolerância ou intolerância. O facto é que a tolerância pressupõe, que exista um outro, e que esse outro, se apresente, se manifeste, fale, exponham o seu pensamento ou ponto de vista.
Um outro pressuposto fundamental da tolerância. É fundamental, que haja discordância. Repito, é Fundamental que haja discordância. Em outras palavras, não há tolerância nem intolerância quando há concordância. Se você é (católico) fervoroso, não há que ser tolerante com o Padre da sua Igreja. Porque! Porque, você deve concordar com o Padre.
E…, portanto, a tolerância pressupõe a possibilidade de discordar, ou seja, de não estar de acordo, de não tolerar, de não aprovar. E portanto, a tolerância pressupõe aquilo que na psicologia, costumam chamar de dissonância cognitiva.
O que vem a ser dissonância cognitiva para os psicólogos da cognição? A dissonância cognitiva, é a tendência que nós temos em Moçambique, de evitar «mundos» em (desacordo) com nossos pensamentos ou pontos de vista. Onde é que você consegue (apanhar) essa tendência de evitar mensagens, que são agressivas ao que você acredita? Por exemplo; na troca de canal na tv, onde você tem lá, o debate do bem contra o mal. Um candidato representando as classes trabalhadoras e o outro representando as elites. E, os dois vão para um debate. E, o que se percebe que, se um candidato que você apoia está levando desvantagem e, ai a possibilidade de você trocar de canal é imensa. Se o seu candidato, está ganhando a possibilidade de mudar de canal de tv é nula. Você vê, existe uma tendência portanto, de procurar pessoas que aplaudam o ponto de vista que já são seus e de evitar aquilo, que produz o desconforto.
Ora! A tolerância é uma resistência à dissonância cognitiva. A tolerância é saber que aqui no país há pessoas em desacordo com o meu candidato. Mas, ainda assim, aceitar a sua existência. Ainda assim, expor-se a ele. Ainda assim, conviver com ele. Ainda assim, suportar a sua permanência. Então; a tolerância é uma resistência contra a tendência, que temos no país de cair fora, de mudar de canal, quando o nosso candidato (político) está em desvantagem; de mudar de assunto, de mudar de companheiro quando a coisa ou, o debate não está nos agradando.
E, sendo assim, isso me levaria a um próximo pressuposto bastante importante. A tolerância é também uma resistência ao ódio (aversão intensa contra o outro). E porquê!?... Ora conforme Spinoza, (na sua Ética) e outros escritos sobre a Ética e Moral. Spinoza, vai nos apresentar a definição de alegria como ganho de potência de agir. Passagem do estado para mais potente do próprio ser (pessoa).
Mas também vai-nos apresentar a tristeza. E, a tristeza é quando você está acabado, murcha, perde a potência. Quando você se acanha e naturalmente, o que você observa a sua volta é que, muito frequentemente quando alguém faz e agi de maneira a produzir desaprovação e isso te entristece.
Por outro lado, quando alguém agi sobre sua estrita aprovação, são aplausos isso te alegra. Portanto, Spinoza nos ensina que o amor é alegria. Amor é alegria acompanhada de ideia da sua causa. Eu amo aquilo que eu sei que alegra. Por exemplo; o meu povo está ai, eles me a leram e eu só posso ama-los.
Já o ódio é o contrário. O ódio é tristeza acompanhado da ideia da sua causa. Ora! Naturalmente, que tudo aquilo que desagrada e produza a minha desaprovação me entristece. Só posso portanto, ter por um mundo assim ódio.
Então, você percebe que a tolerância é uma virtude moral, que resiste ao ódio.
Você vê, o ódio, não é uma questão moral. O ódio é tristeza a acompanhado da sua causa. O ódio é sentimento. O ódio se impõe. O ódio é emoção. O ódio é patos (estupidez). O ódio, você vê, não controla. Portanto, a tolerância é a forma moral de controlar o ódio. A tolerância, é o tempero moral do ódio.
A tolerância, é a luta moral, é luta racional. A tolerância é a luta pensante, contra o sentimento de ódio, por tudo aquilo que nos envergonha e nos entristece hoje no país.
E…,espero que tenham percebido. A tolerância portanto, é um exercício fantástico sobre si mesmo, que pressupõe conhecimento de si mesmo para que possamos, graças aos nossos esforços de razão (raciocínio) vencer nossos sentimentos destrutivos em relação às pessoas com os quais não estamos dispostos a concordar. Naquele lugar, primeiro de tudo é necessário tolerarmos as nossas próprias reacções internas, que só é possível quando conscientemente nos desapegamos e desempregamos dos sentimentos, que acompanham as nossas acções.
Por último, nós não somos os nossos pensamentos e sentimentos. Nós é que os criamos.
Manuel Bernardo Gondola