“Al-Shabab no norte de Moçambique, ou a necessidade de criar uma No Go Zone?”
Confirmam-se novos ataques no norte de Moçambique, com as mesmas características do de 5 de Outubro em Mocímboa da Praia.
Desta vez, tratou-se de ataque ao Posto Administrativo de Ulumbi, no Distrito de Palma, precisamente a zona onde até agora foi feita a única perfuração em terra, na pesquisa de petróleo, pela canadiana Anadarko. Aliás, foi precisamente ao nível das multinacionais, que esta incursão com características terroristas, causou maior pânico, pelo que a região já deverá andar no radar das “empresas-tubarão” de segurança pessoal e a instalações estratégicas, para aí se instalarem e protegerem as petrolíferas e respectivo pessoal.
Perante o actual cenário, a deslocalização destas empresas de segurança deverá já estar a acontecer, já que um terceiro ataque, com mais meios e maior dano, projectará Cabo Delgado internacionalmente como uma potencial “No Go Zone”, encarecendo todo o processo de extracção dos hidrocarbonetos. Bom, talvez seja precisamente isso que se pretende!
Ainda sobre Mocímboa da Praia e os acontecimentos do 5 de Outubro, o Professor Yussuf Adam, historiador da Universidade Eduardo Mondlane, no Maputo, vai para além da potencial e óbvia ligação ao Al-Shabab ou à “Internacional Terrorista”, concentrando a sua análise na componente, competição entre as etnias Mwani e Maconde, já que há anos que os macondes estão a sair do planalto para se fixarem nas planícies. A estrada de Mocímboa da Praia para Palma está cheia de aldeias macondes em território que era mwani. As razões, deve-se à sobrepopulação do planalto, um dos distritos mais populosos de Cabo Delgado e do País.
As lutas entre macondes e mwanis por terras férteis é histórica, havendo sempre conflitos nas áreas propícias para o arroz perto de Palma e da fronteira em Namoto. Em Mocímboa da Praia a população maconde aumentou. No interior do distrito os macondes entraram em regulados, chefaturas mwanis, ajauas etc. e, começaram a plantar árvores de cajueiro. Ora quem planta árvore torna-se dono da terra. Ocuparam também os lugares políticos.
A FRELIMO, na transição, pegou em todos os refugiados que viviam na Tanzânia nos campos geridos pelo UNCHR (ACNUR) e não só não deixou irem para as suas casas antigas, as antigas moradas como eles dizem, como os espalhou por vários distritos. A ideia era aumentar a população numa zona de fronteira, mas o resultado foi o aumento esmagador de uma única etnia, a maconde, nessa região, potenciando o conflito com os mwanis.
Os Mwanis muçulmanos e os Macondes católicos envolveram-se muitas vezes em conflitos nas margens do Rovuma perto da foz do rio. Terras férteis e apropriadas para arroz arrastaram cultivadores dos dois lados /Macondes e Mwanis para conflitos. A OXFAM GB desenvolveu na década de 80 vários projectos em Palma tentando criar algum tipo de relação harmoniosa entre os dois grupos na utilização dos arrozais.
DN – 27.10.2017