O distrito de Mandimba, província nortenha do Niassa, viveu, recentemente, um ambiente de convulsão popular que obrigou a Polícia da República de Moçambique (PRM) a agir de forma agressiva e com todos os seus meios contra a população local.
A nossa reportagem esteve em Mandimba e apurou que na origem do imbróglio estava o assassinato (injusto) de um agente económico local por agentes da PRM.
Facto evidenciante e tomado como base pela população da vila de Mandimba, sobre a acusação, foi a localização de um chapeu pertencente a um agente da PRM no local do crime, dai que a população recorreu a violência para exigir respostas junto ao comando local da corporação.
Neste sentido, a população daquele ponto da extensa Niassa ficou furiosa e foi queimar o comando distrital, casa do comandante e vandalizaram duas viaturas uma das quais pertencente ao Comando da Polícia da República de Moçambique em Mandimba durante algumas horas o que originou a intervenção de Forças militares que, com recurso à disparos de balas para ao ar, repeliram os manifestantes.
“Hoje, acordamos muito triste porque encontramos um corpo sem vida aqui, ele era um homem que trocava kwasha (moeda malawiana), e no local estava lá um chapéu da polícia onde chegamos a conclusão que foram eles que mataram”, desabafou, na ocasião, C. Khossa, residente daquela autarquia.
“Nos últimos dias a criminalidade aqui aumentou, já não podemos andar a noite, alguns polícias também são malfeitores, temos medo porque não são aqueles que podem nos proteger”; disse S. Mateus, outra residente de Mandimba.
“Foi morto um cambista e a população alega que a policia não tomou medidas preventivas, mesmo depois da ocorrência a PRM não conseguiu esclarecer o caso por sua vez não tivemos espaço para dialogar, por isso os manifestantes começaram atirar pedras contra o edifício do comando distrital e nós tínhamos que disparar ao ar para dispersar os manifestantes.
Foram queimadas duas viaturas, uma das quais pertence ao Comandante distrital de Mandimba e a outra do chefe da Polícia Trânsito. Portanto, a polícia usou as balas como último recurso para dispersar a fúria popular que tinha ultrapassado a força do contingente que esteve no local”, disse Aquilasse Manda, Comandante da PRM no Niassa.
Do saldo da PRM contabiliza-se a morte de quatro pessoas e a contracção de ferimentos ligeiros por parte de 7 pessoas. Por outro lado, quatro pessoas foram detidas, alegadamente por terem comandado a operação.
O Secretário Permanente da província de Niassa, Rodrigues Ussene, lamentou o facto e apela a população a não optar pela manifestação para fazer a justiça pelas suas próprias mãos.
“A população não precisava chegar àqueles extremos. Se houve algum sentimento por parte da população penso, muito bem, que ao nível do distrito tem estruturas competentes para tomar conta do caso. Eu lamento, mas espero que não volte a acontecer em nenhum distrito da nossa província ou do país, em geral”, desabafou Ussene. (António João)
Jornal IKWELI – 17.10.2017