Os bancos comerciais têm muito dinheiro que não conseguem vender, porque escasseiam condições favoráveis à realização de negócios, face à conjuntura estimulada pelas chamadas dívidas ocultas
Seria desejável, para a felicidade de todos os moçambicanos, que a economia nacional tivesse crescido, na verdade, como se propala com algum triunfalismo, com uma previsão de quase ultra optimista cinco por cento este ano.
Todavia, os factos advertem para a necessidade de sermos prudentes na abordagem desse suposto crescimento.
Excepção vai para o ramo da agricultura, que claramente logrou produção que hoje enche muitos celeiros de excedentes, persistindo, no entanto, o velho problema: viabilidade de comercialização.
O que se constata é a redução significativa de importações, em consequência de encerramento de cerca de 1500 empresas que não tiveram como resistir à maldita crise. E, se o presente quadro não mudar a breve trecho, os bancos pequenos seguirão o mesmo caminho: vão fechar as portas.
A redução de importações leva a algum excesso de liquidez que se confunde com crescimento económico, entretanto bastante discutível. Excesso de liquidez também estimulado pela confortável situação das reservas internacionais para o alívio de todos nós.
Hoje, os bancos comerciais são confrontados com a devolução precoce de muito dinheiro emprestado, porque os clientes que beneficiaram de créditos não estão a conseguir usar o dinheiro para os negócios que se propunham realizar, porque a conjuntura não é nada favorável.
E entre permanecer com dinheiro alheio nas suas contas, rendendo juros sem produzir, e devolver, muitos entendem ser mal menor devolver precocemente esses empréstimos.
Os bancos comerciais têm muito dinheiro que não conseguem vender, porque escasseiam condições favoráveis à realização de negócios, face à conjuntura estimulada pelas chamadas dívidas ocultas.
O Estado, investidor a ter em conta por via de aquisições, não está a fazer compras, por falta de recursos.
O orçamento cobre apenas o pagamento de salários, e resta muito pouco ou quase nada para investimentos, componente importantíssima para dinamizar a economia.
Significa isto que mesmo que um dia logremos reduzir a dependência externa aproveitando as dolorosas e asfixiantes restrições a que os parceiros externos nos submeteram, seria fatal declinar doações externas de peso para áreas importantes como saúde, educação, abastecimento de água, etc., pois nem a líder da economia regional, a vizinha África do Sul, alguma vez declinou injecções externas de género.
Ainda nos determinantes que nos ajudam a compreender o crescimento económico efectivo haverá que referir que o salto dado pela produção agrícola não está a encontrar a devida correspondência, porque continuam ausentes as condições básicas para a comercialização de excedentes decorrer de forma atractiva e competitiva.
Entre essas condições subsiste o problema de ligação plena entre as zonas de produção e de consumo.
A consequência directa desta lacuna será a desmobilização dos produtores nas campanhas agrícolas que se seguem, que terão de encontrar actividades alternativas para prolongarem a sua subsistência.
A ligação deficiente entre as zonas de produção e os centros de consumo representa apenas um dos vários problemas que impedem uma agricultura de desenvolvimento em Moçambique, a começar pela abordagem generalista. A solução desses problemas passa por estratégias pragmáticas e realísticas que ponham o sector familiar (agricultura de subsistência) a produzir em pleno.
Uma coisa é a vontade de vermos a nossa economia a crescer, a outra é a vontade excessiva transformada em fantasmas que nos levam a um sonho que nos conduz a uma ficção de crescimento real da economia que, entretanto, ainda não houve.
Não pode haver a menor dúvida de que todos almejamos que a economia real cresça, porque desse crescimento dependemos todos.
Todavia, temos de trabalhar ainda muito mais para que o crescimento seja real e não seja influenciado pela redução de importações, motivada pelo encerramento de cerca de 1500 empresas, que não conseguiram sobreviver à crise que nos vai sufocando.
BALTAZAR MONTEMOR
CM – 18.10.2017