Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected])
Onde abundam abóboras falta lenha e vice-versa. Este provérbio mostra que os recursos naturais abundam onde não há capacidade de os extrair ou consumir. Extraído de uma conversa com o irmão do amigo Nkulo
Se alguém me perguntasse se Manuel de Araújo está a fazer um bom trabalho como presidente do Município de Quelimane, a minha resposta seria pronta e nítida: Não. E avançaria dois motivos para subsidiar a minha apreciação negativa, desde logo o facto de a edilidade ainda não ter conseguido garantir a sua auto-sustentabilidade financeira. O subdesenvolvido de um país ou de uma região ou até mesmo de um município não significa o não desenvolvimento, mas sim a sua dependência económica.
A cidade de Quelimane é dos poucos municípios do país que, por si só, representa o epílogo da História de Moçambique. A criação de museus e das indústrias criativas, em que os empresários tivessem a coragem de investir nelas e de exportar as potencialidades históricas, artístico-culturais e turísticas da cidade, creio que o município de Quelimane estaria a andar para frente. Se o turismo tivesse aí uma simbiose com a cultura, creio que os ganhos seriam maiores. Infelizmente, Manuel de Araújo continua a acreditar numa solução externa. Pedir dinheiro para investir em infra-estruturas que só servem para reabilitar a consciência dos munícipes tem risco e paga-se muito caro: ou os projectos conseguem pagar a dívida ou vão à falência.
Com ou sem o apoio do MDM, considero Manuel de Araújo um candidato invencível em Quelimane. Ele é “Lionel Messi moçambicano” que faz “estragos” na grande área da equipa adversária (liderada pelo governador Abdul Razak). Araújo é um político astuto que consegue, em cada drible seu, fazer com que a Frelimo cometa autogolos na Zambézia.
As querelas partidárias entre os camaradas, na Zambézia, não parecem demover a “estranha” serenidade de Razak, mas infecta o desempenho do seu governo. O clima de crispação, resultante da desorientação de muitos quadros e de seus interesses pessoais que se sobrepõem aos desígnios nacionais, torna, indefectivelmente, inviáveis os projectos de desenvolvimento da província. Num ambiente deste tipo, de “cobras e lagartos”, nenhum gestor consegue produzir resultados desejáveis. Contudo, o descalabro governativo da Frelimo na Zambézia é uma bênção para Manuel Araújo.
Mwana muchuabo kankara buruto, Araújo, rebento político de seu mestre Bonifácio Gruveta Massamba, compreendeu a lição que para se conseguir tirar mel do favo é preciso antes de mais nada “entontecer” as abelhas. Araújo nem precisa de estar presente em Quelimane, para governar, porque a arena está montada para que os camaradas se gladiarem à toa.
Uma outra razão de fundo tem que ver com o facto de Manuel de Araújo ser um homem politicamente “lubrificado.” É também um “general da política” que foi e está devidamente preparado (física e emocionalmente). Foi deputado da Assembleia da República pela Renamo e, para o espanto de muitos, gracejou simpatias e carisma através das suas lucubrações que causaram grande entusiamo popular. Conseguiu estabelecer pontes dentro e fora de portas, tornando-se um “activista político internacional.”
Atrevo-me a dizer que Araújo é, talvez, o único político de um partido da oposição que foi “beatificado” por todas as forças da “fauna política nacional” e pela população em geral, incluindo a sociedade internacional, quando reaproximou, na Zambézia, os até então desavindos Afonso Dhlakama e Daviz Simango. Goza de privilégios no “mundo da comunicação social” e raramente delega seus desabafos, fá-lo pessoalmente. É gago, mas não gagueja na hora de desferir ataques (em legítima defesa) contra os seus adversários. As suas intervenções públicas, mesmo em ambientes de paz, servem para marcar posições e território. Um político assim, com essa armadura blindada, não se combate com demagogias. Ele é aquele tipo de políticos que consegue contornar os obstáculos. Portanto, não creio que tenha adversário à altura em Quelimane. Ele tem o seu próprio eleitorado. Portanto, não é Manuel de Araújo que precisa do MDM é o MDM que precisa de Manuel de Araújo.
Zicomo e um abraço nhúngue aos amigos Elias, Doce, Giwa e Maninha.
NOTA:
Não conheço as reais motivações que levaram a deserção do senhor Zeca Caliate da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), cuja luta conduziu à independência nacional e o fim da brutal opressão colonial contra o povo moçambicano. O que me causa estranheza não são os seus comentários incendiários, diz-se que uma criança só lança peido quando está saciada, mas sim o seu silêncio em explicar por que motivo se juntou à “potência” opressora e não ao Vaticano, um “território sagrado”, onde todos consideram-se filhos do mesmo pai.
WAMPHULA FAX – 17.10.2017