Esta terça-feira inicia recenseamento da população no distrito municipal de Mocímboa da Praia, medida inspirada nos acontecimentos da semana antepassada, marcada por assaltos às esquadras de polícia e ao comando distrital.
Fernando Neves, presidente do Município da Mocímboa de Praia, diz que o processo terá a duração de 30 dias e o objectivo é saber quem reside no distrito, quem estuda e quem não estuda, ainda saber as pessoas que visitam seus familiares.
Neves diz que o recenseamento que esta manhã inicia vai ajudar a completar o processo levado a cabo recentemente pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE), da população e habitação.
Desse modo, acreditam as autoridades, estarão controladas todas as entradas ao distrito, onde todos saberão quem é quem.
Até Outubro de 92, altura da assinatura do Acordo Geral de Paz, em Moçambique vigorou exactamente o método hoje recuperado pelas autoridades para o caso específico de Mocímboa da Praia.
Residentes de um determinado bairro se conheciam de tal modo que qualquer visitante tinha a obrigação de se apresentar às autoridades locais, mediante guia-de-marcha emitida pela tutela do bairro de proveniência, ainda clarificar o período de sua estadia na residência dos seus parentes.
De contrário, sem a tal guia, corria o risco de ser detido pelas autoridades locais, enquanto se abria processo de averiguação. Moçambique observava guerra civil.
Nas negociações de paz, a Renamo exigiu a extinção deste método de controlo e de se acabar com os Grupos de Vigilância Popular (GVP), responsáveis pela implementação daquela norma.
Hoje, esse método volta à ribalta, por causa de grupos infiltrados que desde semana antepassada colocaram em pânico a população de Mocímboa da Praia e a corporação obrigada a redobrar esforços de modo a conter a invasão de homens armados cuja proveniência continua duvidosa.
O grupo armado, de inspiração islâmica radical que atacou Mocímboa é formado por pessoas da vila.
"Estamos a trabalhar para massificar cada vez mais a vigilância comunitária", Fernando Neves.
O registo vai ser feito a partir das estruturas de bairro, para que se saiba em detalhe quem por ali reside e também para conhecer melhor cada pessoa.
"Para nos desenvolvermos, para podermos ter ideias, temos primeiro que estudar: a pobreza está na nossa cabeça" e "a ignorância" abre portas à manipulação por terceiros.
As autoridades islâmicas e do Estado têm sustentado a ideia de que é a população mais desfavorecida e sem escolaridade que está a ser manipulada por supostos líderes religiosos para atacar as autoridades como forma de afirmação.
Relatos da população não confirmados pelas autoridades dão conta de que se continuaram a ouvir disparos no mato, nos arredores de Mocímboa da Praia, até à madrugada de domingo.
Ainda assim, o presidente do município considera que, para já, não se justificam mais reforços além dos já estacionados em Mocímboa.
"Acho que com o envolvimento da estrutura de base", refere, pode ser garantida a segurança.
Num ataque a 05 de Outubro e cujos tiroteios se prolongaram por 48 horas, paralisando
a vila, morreram dois polícias, 14 atacantes e o grupo armado terá ainda abatido um secretário de aldeia.
EXPRESSO – 17.10.2017
NOTA: Independentemente da necessidade ou não deste “recenseamento” a sua efectivação será legal? E por quanto tempo se manterá actualizado? Para que servirá afinal?
Fernando Gil