Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected])
Às vezes sonho: se eu fosse o super-homem endireitava Moçambique. Matando todos os corruptos governantes. Depois, lembro: foi o que Bush filho tentou fazer no Iraque. Vieram logo muito mais corruptos, sendo que ainda muito mais medíocres. Nada melhorou, porque não educou as gentes. Extraído de uma conversa com o amigo José Soares.
O combate à corrupção está a tornar-se a “marca” da governação do presidente Filipe Nyusi. É uma medida corajosa e consensual que só peca por tardia. Há muito que vinha dizendo nestas minhas centelhas que o Estado moçambicano tornou-se o repositório de alguns parasitas e sanguessugas.
Os requisitos para a admissão na Função Pública comportam meia dúzia de itens que não são obrigatoriamente respeitados. O âmago desses servidores públicos estão claramente desavindo com os valores morais e éticos da sociedade moçambicana.
Dado o enraizamento da corrupção, a notável frase “o que eu posso fazer pelo meu país” foi substituída pela “quanto eu consigo roubar ao meu país?” Os guardiões da moral de ontem, salvo raríssimas excepções, estão comprometidos com a pequena, média e a grande corrupção. A metamorfose do carácter, caracterizada pela dinâmica da vida, contribuiu para que muitos deles se transformassem nos piores corruptos.
As características da corrupção, dizia um professor amigo, são as más decisões em desfavor da maioria. Como é que um dirigente com dois dedos de testa consegue estipular um salário exorbitante para o seu conselho de administração quando os restantes funcionários não conseguem descolar da situação de pelintras? Empregados que, exercendo uma sinecura, ganham mais do que o seu patrão? Uma aberração!
O presidente Nyusi não conseguirá ter êxitos no combate à corrupção, sem antes refazer os curricula do Sistema Nacional de Educação. Apresentar uma e outra figura de proa política e económica nacional não é suficiente para desnutrir a prática da corrupção que carcoma a administração pública. As nossas leis são benignas para os corruptos, o que é preciso é a transformação dos curricula, para que se perceba, desde o primário, que a corrupção é uma epidemia sem cura, mas que pode ser combatida.
É partir da escola que se inicia o processo de combate à corrupção. A justiça pode, no seu direito, prender e condenar um e outro “tubarão”, mas a podridão mantém-se e regenera-se. À medida que as televisões mostram um corrupto, o viveiro da corrupção forma cem. Portanto, acho uma tarefa árdua e complexa o combate à corrupção sem mexer no ensino.
O presidente Nyusi faz muito bem em lançar o aviso à navegação. Os corruptos, como bons malandros, compreenderam a mensagem. Vão agora reagrupar-se para intentar acções de subversão. Poderão surgir algumas acções de sabotagem. Vi isso durante o regime samoriano. Por isso, o meu apelo é no sentido de que esta luta contra a corrupção não deve ser apenas do presidente Nyusi, mas de todos os amantes deste maravilhoso país que se chama MOÇAMBIQUE.
Zicomo e um abraço nhúngue ao amigo Makauzo.
NOTA 1: Alguém disse-me há dias que os moçambicanos quando viajam para o estrangeiro vão visitar monumentos figurativos no mínimo esquisitos: estátua de um menino a urinar (Bélgica), vaca derretida no meio da rua (Hungria); dois homens a urinar no meio da rua (República Checa), etc. Uma mistura de fantasia e mitologia. Nós temos milhares de monumentos históricos nas nossas cidades, nenhum deles é visitado. Dado o grau avassalador da incompetência e a falta de auto-estima, é de questionar a utilidade e relevância do cérebro em alguns seres humanos.
NOTA 2: À hora do fecho do texto fiquei a saber que a OMS revogou a intenção de nomear o presidente Robert Mugabe para “Embaixador da Boa Vontade.” Péssima decisão que deveria merecer um repúdio em coro dos países africanos membros daquela instituição. Pura chantagem e fraqueza emocional. Mostra o desrespeito total para com o povo zimbabueano e o desprezo pelo esforço que o presidente Mugabe e o seu governo têm alcançado para uma salutar saúde naquele país e em Africa em geral. A verdadeira doença, a meu ver, é o trambolhão em que se encontram as instituições internacionais que gravitam em torno dos interesses de alguns
WAMPHULA FAX – 23.10.2017