EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (73)
Bom dia, Presidente. Volvidas algumas semanas após a realização da reunião magna dos camaradas, na qual os seus poderes saíram reforçados, esperava ver alguma acção enérgica. Só foram algumas reuniões e o reforço da retórica anti-corrupção, nada mais.
Esperava, efectivamente, alguma reengenharia institucional que se pudesse aliar à vaga discursiva.
Ninguém até aqui me há-de convencer que essa coisa de combate à corrupção não é conversa para boi dormir.
É bluff. O Governo não está preocupado com isso. A sua preocupação é de gerir o tempo até às próximas eleições. Usar a mesma engenharia e ganhá-las. Ninguém combate a corrupção com discursos. A ineficiência continua a mesma. O GCCC continua dormente. Só age quando é conveniente e, nessas alturas, é para caçar o peixe miúdo. Os que fazem do Estado a sua vaca leiteira continuam impunes. E o Presidente os conhece.
Até aqui não existem acções concretas contra os que lesaram a pátria em dois biliões de dólares. Endividaram-nos e andam por ai livremente. Até merecem cargos de honraria no partidão.
Isto não é o mesmo que dizer que a Frelimo acoberta os corruptos?
Será a Frelimo o oásis dos corruptos? Prefiro menear afirmativamente a cabeça!
Eu já lhe comuniquei, Presidente, que os meus ouvidos são sensíveis. Não suportam esse estribilho de combate à corrupção.
Passou da moda. Ou seja, desde o começo nunca foi agradável.
Nenhuma cantiga governamental há-de, algum dia, combater a corrupção.
Podem os seus aduladores repetirem o mesmo estribilho até se cansarem.
Corrupção combate-se com actos concretos. E não estou aqui a trazer nenhuma ferramenta nova. Até o FMI já nos disse bastas vezes: enjaularem os ladrões que roubaram o País. E nada. E ainda temos coragem de ir à Washington ajoelhar a ver se nos perdoam. O que custa entregar os criminosos? Do que o Governo tem medo? Quem age assim é cúmplice. Sabe de alguma coisa.
Também aproveitou-se da ingenuidade da vaca leiteira para lhe sugar o leite.
O Estado moçambicano deve ser uma catorzinha - e daquelas ingénuas. Fácil de enganar. Penetram-no até à exaustão e gabam-se nas ostentações habituais. Uma casa no Bilene, outra na Ponta D´ouro. Uma conta gorda no exterior. Filhos a estudar no privado, futuros caçadores da mesma catorzinha.
O Presidente está a falar da boca para fora. Acções concretas zero! Se tivéssemos que avaliar o seu desempenho só na matéria de combate à corrupção, o resultado seria desastroso. Desencorajador.
Podia não ter entendido à altura, mas agora sim. O seu poder saiu reforçado do congresso porque o Presidente é pelo laissez-faire. Laissez passer. E, como agradecimento, a ala dos perigosos delapidadores deste País lhe reforçou os poderes.
Quem ganha com uma percentagem a roçar os cem por cento sem nenhuma obra? Quais é que são os objectivos que estão por detrás de tanta bajulação? A lógica é: aconchegue-nos à teta mais fértil e dar-lhe-emos o poder. E o povo?
Continuará a ver navios e sem dinheiro para ir ao médico por causa da dor dos ouvidos de tanto ouvir a mesma cantiga: combate à corrupção!
DN – 27.10.2017