Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected])
É simplesmente desmoralizante. […] A banalidade reina. O lugar-comum impera. A linguagem é automática. A preguiça é virtude. O tosco é arte. A brutalidade passa por emoção. A vulgaridade é sinal de verdade. A boçalidade é prova do que é genuíno. A submissão ao poder e aos partidos é democracia. A falta de cultura e de inteligência é isenção profissional. António Barreto, cientista social português
Todos os dias úteis da semana recebo, pelo menos, 15 jornais electrónicos de Moçambique. Todos eles, à excepção de 4, apresentam os mesmos conteúdos noticiosos e as mesmas fontes. As mesmas fotografias e as mesmas “gincanas publicitárias.” A colagem de informação é enfadonha. Não há contraditório. Não há pesquisa nem investigação. Não há didáctica. Não há profissionalismo nem deontologia profissional. Não há presunção de inocência. Não há protecção de menores. Em contrapartida, há uma exposição exorbitante do inútil. Há uma vontade crescente e frenética de diabolizar o país. O inimigo a abater é único: o partido Frelimo.
É um tipo de jornalismo do “faz de conta.” Títulos aberrantes, conteúdos vazios, tipos de letras sangrentos e erros gramaticais de criar náuseas. Textos maçudos e cheios de incongruências. Uma pulhice reinante. A pressa em informar faz perder o discernimento. A precipitação mata o profissionalismo e envergonha a classe jornalística. Recorrem aos mesmos entrevistados, os chamados “intelectuais de plantão”, que assumem a missão de fuzilar à verdade. É proibido dizer a verdade.
Aliás, quem ousa dizer a verdade é acusado de estupor e desleal. Um jornalismo que serve de cão de caça dos interesses dos “adamastores do metical.” Por outras palavras, um jornalismo corrompido que fere e mata. Como diria o meu amigo e bom samaritano, Hugo Guerreiro, a falta de valores e ética profissional de alguns jornalistas é também a causa da queda de credibilidade de uma profissão que é o esteio de qualquer nação democrática.
Mas, afinal, que tipo de jornalismo é esse? A profissão foi assaltada por gente medíocre. As fofocas produzidas nas redes sociais servem de fontes primárias para a produção da notícia. A inveja, o ódio, a descrença e a desonestidade espoletam inverdades que servem de marketing político. Enfim, a mentira funciona como elemento de prova. É o ladrão, o criminoso, o fofoqueiro, o corrupto, o violador, o gatuno, o salafrário, que fabrica a notícia e a coloca nas mãos das suas vítimas. Para esses pasquins e jornaleiros, Moçambique é o que acontece na cidade de Maputo.
Durante muitos anos, na Escola Primária Marien Ngouabi em Tete, o professor Nguluve afirmara que a mídia é uma profissão nobre e representa o quarto poder, porquanto defende as minorias e dá voz aos “asfixiados” pelos “adamastores do metical.” Nguluve estava certo, porque naquele estádio (tempo), todas as profissões, mormente a do jornalismo, eram exercidas com elevado grau de profissionalismo, temperamento (carácter) e sigilo absoluto. O jornalismo era o galarim da sociedade. E hoje?
Por imperativos estomacais, a pirâmide está invertida. Escasseiam reportagens sobre a vida política e socioeconómicas das populações de Matutuine, Mapai, Mecúfi, Kambulatsitsi, Inhamitanga, Mavago, Memba, Sussundenga, Morrumbene, Luabo, etc. Essas populações precisam de quem os proteja e os ajude na divulgação das suas actividades. Guardiões de riquezas culturais, elas precisam de “fazer parte” deste mundo globalizado. Cadê os jornalistas? Infelizmente, o limite da criatividade – no jornalismo do “faz de conta” – não é o céu, mas sim o fundo da estupidez. Como diria um bom amigo meu, Egídio Piloto: “Eu penso que a fórmula como a pobreza nos abusa da vida, perdemos o senso da vírgula.” Enfim, estamos perante uma distopia jornalística. Zicomo e um abraço nhúngue ao Chizuzu.
WAMPHULA FAX – 30.10.2017