Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected])
Um corvo cauteloso morre pela velhice. Citando Mário Dickson, veterano da Luta de Libertação Nacional
Dizia um internauta que “O barulho das águas nunca tira o sono ao peixe e nem impede ao peixe de gozar a sua vida.” Os acontecimentos da passada quarta-feira, protagonizados pelo exército zimbabwiano, não me tiraram o sono. A minha admiração pelo presidente Robert Mugabe é enorme, razão pela qual tenho-o assumido como um “pai adoptivo.”
Mugabe é um grande vulto histórico que fez pela África como nunca havia sido feito: a defesa dos interesses da maioria da população negra que se confrontava com a opressão colonial, com a segregação racial e com uma pobreza generalizada insolente, favorável a minoria branca. Mugabe é o símbolo da revolução zimbabweana e o exemplo de altitude moral que não é frequente no nosso continente.
Há pouco mais de meio século, nós os africanos éramos escravos, tratados como irracionais, foi graças a Mugabe e outros paladinos das independências africanas que nos tornamos livres e comandantes do nosso próprio destino. Mugabe é um líder que prestou e tem prestado grandes serviços ao continente africano.
Um homem que atinge a adorável faixa etária dos 90 anos, liderando com lucidez o destino de um país democrático, é algo divino e maravilhoso! Ficou, mais uma vez, claro que não foi o excesso de populismo que lhe tornou impopular, mas sim o seu amor ao próximo (o filantropismo) e o carácter nobre da sua coragem em prol dos mais sofridos (brancos, pretos, amarelos, enfim, uma “paleta” de gente).
Aqueles que o atacam, escrevendo comentários venenosos, são incapazes de compreender e sentir o sofrimento alheio. Ignoram o passado comum e procuram “reabilitar” a história colonial que fez sangrar muitos zimbabweanos e africanos em geral. Eles nunca dizem, por exemplo, que o “Ocidente” impôs sanções ao Zimbabwe, preferem recorrer à teoria da ditadura. Qual ditadura, qual carapuça! Recusar-lhes o acesso a pilhagem dos recursos naturais é ditadura?
Acredito que num futuro breve essas pessoas irão à missa bater com a mão no peito quando os “imperialistas” e seus lacaios tomarem o poder no Zimbabwe, à semelhança do que aconteceu no Iraque e na Líbia. Hoje em dia, nesses países, as populações já não rezam para a descida do Redentor à Terra, mas sim a ressurreição imediata de Saddam Hussein e Muammar al-Gaddafi, que foram injustamente depostos e mortos pelos interesses imperialistas. Vimos uma multidão enfurecida, embriagadas por falsas esperanças, que gritavam “foram Saddam, fora Gaddafi.” Hoje chupam o dedo. Por isso não me admira quando vejo algumas pessoas incautas, adormecidas pela ignorância, a pedir a cabeça de Mugabe nas ruas de Harare.
Mugabe é um “monarca” e factor de estabilidade política no Zimbabwe. Um conflito improvável poderia criar perturbações políticas e sociais muito profundas e graves no país, que teriam efeitos nefastos para Moçambique. Por exemplo, as províncias de Sofala, Manica e Tete rebentariam às costuras com a avalanche de imigrantes e o adensamento do crime.
Há que os ter no lugar para dizer isto: o exército do Zimbabwe agiu em defesa dos interesses imperialistas que nunca esconderam a sofreguidão para tomar de assalto o poder político e económico no Zimbabwe. A toada sobre a sucessão de Mugabe e a suposta afirmação da sua esposa, Grace Mugabe, na presidência do país, foi apenas um mero pretexto. (Um à parte: diz-se que a esposa de Mugabe gasta fortunas em compras, pois fique-se sabendo que qualquer sintoma de gravidez da esposa de um príncipe algures na Europa movimenta biliões de dólares que fazem falta aos pobres, apenas critica-se o “mal africano.” Ademais, a “mama” Grace não cometeu crime algum por ambicionar o poder! Em contrapartida, os exemplos transbordam os compêndios da História).
Algumas chefias militares que se comportaram como se de “messias modernos” tratassem não passam de marionetas que inverteram a ordem constitucional do país a troco de lentilhas. Foi um golpe baixo que visa o retorno dos “imperialistas” ao país. Entretanto, os ingredientes da desordem, instigados pelo então vice-presidente (o agora líder da ZANU-PF), parecem conduzir o Zimbabwe ao colapso. Espera-se que nasça, do ponto de vista da violência, uma nova Somália na região.
Há uma semana, numa esplanada de uma cidade europeia, um antigo farmeiro dizia-me o seguinte: “O bom de hoje vira o mau de amanhã, ou tem somente as aparências de bom quando na verdade é mau, tudo é relativo. O Emmerson Mnangagwa é hoje visto como um democrata, um respeitável sucessor potencial de Mugabe, capaz de assumir o cargo de salvador do Zimbabwe, enquanto a alma dele está irremediavelmente manchada de sangue de dezenas de milhares de Mandebeles que ele mandou assassinar a sangue frio (se fosse só os Mandebeles!!!).” Estas palavras, entre comas, são de um anti-Mugabe que assumiu publicamente o seu apoio político e financeiro à oposição zimbabweana. Ao contrário do que muitos dizem, creio que a História não iliba ninguém. E Mugabe não precisará que o ilibem. Ele é simplesmente o herói da História. Talvez tenha razão o meu amigo Nkulo quando diz que “Em História, há factos que não são compreendidos pela geração que lhes é contemporânea.”
Eu sempre disse que os “imperialistas” haveriam de se vingar da frontalidade de Mugabe. Avisei. Enquanto alguns “imperialistas” e seus lacaios apelam para o retorno da ordem constitucional no Zimbabwe (derramando lágrimas de crocodilo), no fundo do coração salpicam-lhes o desejo de ver o presidente Mugabe deposto e morto. As rádios, televisões e redes sociais, esfuziantes, lançavam foguetes quando ouviram que os militares controlavam “o poder no Zimbabwe.” Vi isso na semana passada quando visitei duas cidades capitais europeias.
São escassas as informações sobre o Zimbabwe, facto que abre frinchas para a especulação. Permitam-me, no entanto, dizer que o meu “pai adoptivo", Robert Mugabe, está bem de saúde. Enquanto viver muita coisa ainda pode acontecer. Vou citar um líder americano (John Kennedy) que, no decurso da crise dos mísseis de Cuba, dizia mais ou menos o seguinte: “As televisões mostraram quem deu o primeiro tiro, mas a Historia dirá quem ganhou a guerra.” Em outras palavras, as televisões mostraram o que pode ter sido um golpe de Estado, mas a História zimbabweana dirá quem efectivamente ganhou a “guerra.”
Termino com uma célebre frase do meu “pai adoptivo”, Robert Mugabe: “NADA DO QUE ME POSSA ACONTECER ME FARÁ RENDER. NÃO CONHEÇO A PALAVRA RENDIÇÃO.” Zicomo e um abraço ao povo irmão do Zimbabwe.
NOTA: Debate-se no país (Moçambique) a legalização da L*****. Sou contra. Devem tratar-se, pois, para mim, é uma doença. Há quem diga que não. Respeito. As pessoas não nascem gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, etc., tornam-se, por influências diversas e adversas. Pior: arrastam multidões. A intimidade das pessoas e a orientação sexual não devem ocupar a agenda do Governo. O nosso Governo tem muito que fazer para discutir os apetites sexuais das pessoas. Eu no meu quarto, com a minha esposa, fazemos como queremos e da forma como nos convém. Não precisamos de um decreto governamental para nos impor desejos e acrobacias sexuais. É contra os princípios da nossa sociedade a perversão social. Hoje é a L***** que suplica para ser legalizada, amanhã serão os rastamans, os surumáticos, os corruptos, etc. A quem interessa, afinal, a legalização da L*****? O grande problema surgirá quando essa gente pretender adoptar crianças de alguém que não seguiu esse ritual sexual, aí o círculo vai pegar fogo. Estou do lado do Governo: NÃO, NÃO, NÃO.
WAMPHULA FAX – 20.11.2017