Há precisamente dez anos, em novembro de 2007, a VISÃO passou nove dias em reportagem clandestina em Harare, a capital do medo e da pobreza, assolada por uma brutal ditadura e pelas piores condições económicas do globo. Recorde aqui essa reportagem e perceba como se vivia no país governado por Robert Mugabe
Nada nesta viagem parece destinado a correr bem.
Qualquer tentativa de contactar Harare, a capital do Zimbabué, é um risco. O telefone fixo deve evitar-se, porque é o mais fácil de ser escutado. O e-mail, porque pode ser travado. A rede de telemóveis mais comum a Net One porque é do Estado.
Há poucos dispostos a ajudar. Da embaixada portuguesa, voz feminina desaconselha vivamente a reportagem. Uma jovem funcionária da União Europeia, a quem expusemos os nossos planos, assusta-se: «Existe aqui», escreve para a mão amiga que nos tinha facultado o seu endereço de e-mail, «uma 'interception of communications act'. As possibilidades de este e-mail estar a ser monitorizado são elevadas. Não respondo, para não comprometer (ainda mais) a segurança de quem o enviou.» E Noel Kututwa, um zimbabueano que conhecemos em Portugal, líder de um fórum de ONGs, não recebeu dois dos três e-mails enviados.