Fonte dos serviços secretos do Zimbabwe disse à Reuters que o ainda Presidente, impedido de sair de casa pelos militares, não quer deixar o cargo voluntariamente e recusou a mediação de um padre católico, único meio de contacto com os generais
O Presidente Robert Mugabe, de 93 anos, não pretende deixar o cargo, assegurou uma fonte não identificada dos serviços secretos do Zimbabwe à Reuters, resistindo, para já, à mediação de um padre católico tendo em vista uma saída digna do poder, depois do golpe militar desta quarta-feira.
Conta a Reuters, citando uma fonte política, que o padre Fidelis Mukonori constitui nesta altura o único elo de ligação entre Mugabe e os generais que numa declaração transmitida pela televisão justificaram o assalto ao poder com a necessidade de capturar “criminosos” próximos do chefe de Estado, “que estão a causar sofrimento económico e social no país”.
Visto no Ocidente como um déspota, o antigo guerrilheiro no poder desde 1980 — ano em que, reconhecida a independência, alcançou a chefia do Governo — continua a ser considerado por muitos dos zimbabweanos como um herói da libertação do jugo britânico.
Relatórios dos serviços secretos a que a Reuters teve acesso sugerem que o antigo chefe da segurança e vice-Presidente, Emmerson Mnangagwa, cuja demissão foi anunciada na segunda-feira, dia 6, será o arquiteto do golpe que começou a ser desenhado há mais de um ano.
Logo que surgiram as primeiras notícias das movimentações militares nas ruas da capital e na eventualidade do plano de Mnangagwa estar em curso, o líder da oposição, Morgan Tsvangirai, no estrangeiro por motivos de saúde, decidiu regressar a Harare.
De acordo com o Presidente da África do Sul, Jacob Zuma, que esta quarta-feira terá falado ao telefone com Mugabe, o ainda Presidente do Zimbabwe estaria seguro mas impedido de sair de casa pelos militares, juntamente com sua mulher, Grace, de 52 anos.
Esta antiga datilógrafa do Governo, conhecida como “DisGrace” [DesGraça] ou “Gucci Grace” [é pública e notória a sua paixão por objetos de luxo], registou uma ascensão meteórica no partido no poder, a União Nacional Africana do Zimbabwe (ZANU-PF), nos últimos dois anos. O afastamento de Emmerson Mnangagwa estaria a ser interpretado como um passo essencial para suceder ao seu marido na presidência do Zimbabwe.
A aparente agitação nos gabinetes do poder contrasta com a calma nas ruas de Harare. Segundo o correspondente da Associated Press na capital do país os soldados ainda continuavam a controlar algumas posições estratégicas e a pedir a identificação a alguns cidadãos, a caminho de mais um dia de trabalho.
EXPRESSO(Lisboa) – 16.11.2017