O reassentamento da população nas zonas por onde passará uma linha férrea entre Tete e Zambézia está a gerar críticas. A construção orçada em mais de dois mil milhões de euros irá percorrer um trecho de 700 km.
O Governo moçambicano pede calma à população para evitar conflitos devido ao reassentamentos da população que vive em zonas por onde irá passar a nova linha férrea entre a província de Tete e Macuse, na Zambézia.
As obras da construção da linha férrea que liga Chitima, na província de Tete, a Macuse, na Zambézia, vão custar quase 2.300 mil milhões de euros. As obras incluem também a construção de um porto de águas profundas em Supinho para atracagem de navios de grande porte.
O ministro moçambicano dos Transportes e Comunicações, Carlos Mesquita, procedeu à assinatura de acordos com a concessionária Thai Moçambique Logística, empresa de capitais tailandeses que deverá começar a executar as obras em 2018.
A nova linha férrea deverá percorrer cerca de 700 quilómetros desde a região de Chitima, na província de Tete, passando pelos distritos de Moatize, Doa, Mutarara, até ao posto administrativo de Macuse, na província da Zambézia. Nessas regiões, centenas de famílias terão que ser desalojadas e enviadas para os centros de reassentamentos.
"Exortamos para que haja harmonia e bom entendimento na gestão do projeto, particularmente nas questões de informação e envolvimento das comunidades nos locais onde será reassentada a população. Queremos paz e desenvolvimento harmonioso", afirmou o ministro Carlos Mesquita.
Lucas Amadeu, da organização Muratho wa Zambezia, avisou que poderá haver muitas reivindicações caso o governo não crie condições para as populações que serão deslocadas. "Nós vamos ficar atentos e acompanhar atentamente de forma inteligente e construtiva. Vamos contribuir para que as coisas corram da melhor maneira. Nossa aposta não é perturbar e nem vedar o desenvolvimento, mas, sim, que sejam observados todos os critérios definidos", disse.
O régulo Isaque Lipava, de Supinho, diz que a população está de alerta e que irá reivindicar seus direitos. "Fazer deslocar alguém sem lhe explicar se vai haver ou não indeminização vai criar um problema para nós mesmos. Devemos abranger as pessoas locais para trabalhar e não trazer pessoas de Maputo, Beira e Nampula para trabalhar. Deve haver um recenseamento para todos os trabalhadores e é preciso trazer técnicos para nos ensinar o trabalho", explica.
Vantagens para a região
Dos 2.300 mil milhões de euros de custo das obras, o governo moçambicano deverá contribuir com 20% do valor. O ministro moçambicano dos Transportes e Comunicações, Carlos Mesquita, fala em vantagens para a região.
"Estamos a construir um sonho de estabelecer o transporte ferroviário de passageiros ligando a cidade de Quelimane às cidades da Beira e Tete, explorando as linhas de Macuse e Sena. O corredor logístico de Macuse é um empreendimento que vai mudar a vida da região no centro do país e da província da Zambézia em particular. Apenas na fase de construção do porto e da linha férrea está prevista a criação de 20 mil empregos", afirma.
O porto de Supinho terá um terminal de carvão que será escoado para vários países de Ásia e América, mas Lucas Amadeu, da organização Muratho wa Zambezia, critica. "É preciso pensar na sustentabilidade das famílias que serão movimentadas. Precisamos ter essa cautela e a consciência de que as riquezas são nossas e que devemos usufruí-las de forma racional, sem prejuízo e sem pôr em frente os interesses particulares", sublinha.
A mão-de-obra local deve ser priorizada, defende Fura Bocais, um dos residentes de Quelimane. "A expectativa é que o crescimento porque teremos um porto que vai escoar muitos produtos, e espero haver mais emprego para os desempregados."
DW - 06.12.2017